sexta-feira, 20 de abril de 2007

Vakyavritti

Esposição sobre a Essência - "Tu és isso"

Louvado seja Shri Ganesha.

1. Me inclino diante dessa unidade absoluta de puro Conhecimento que é Shri Vallabha, dotado de poder indiscutível, é causa da manifestação, da conservação e da dissolução [de todas as coisas]. É o Senhor do universo que objetiva uma variedade indefinida de formas, que a tudo conhece e sempre está absolutamente livre de toda a limitação; é um imenso oceano de Beatitude infinita.
2. Rendo eterna homenagem aos pés do lótus Daquele que, por meio de sua graça posso realizar a natureza do Si mesmo, posso reconhecer que eu mesmo sou o que tudo abarca e compreender que todo o universo fenomênico está projetado por mim.
3. Queimado pelo fogo do triplo sofrimento e desgastado pelo profundo padecimento interior, um [discípulo] já dotado de calma mental e das outras virtudes que são requisitos necessários [para a liberação], pergunto a um verdadeiro mestre:
4. Oh! Senhor, por meio de Vossa Benevolência, revela-me concisamente aquilo que eu possa liberar-me imediatamente da escravidão da existência!
O mestre respondeu:
5. O pedido que acabas de fazer é muito elevado. Escuta-me com muita atenção, já que me proponho a expor-te tudo isso de maneira muito clara.
6. O conhecimento que emana de sentenças como: "Tu és isso" e outras, que concerne a identidade do Si mesmo jivaico com o Si mesmo supremo, constitui o [único] meio de liberação.
O discípulo disse:
7. Qual é o Jiva [Alma] e qual é o Si mesmo supremo? Como pode existir identidade entre eles? De que maneira uma sentença como: "Tu és isso" pode demonstrar essa identidade?
O mestre respondeu:
8. Te darei a solução da seguinte maneira: Quem é o Jiva? Somente é você mesmo. E você me pergunta "Quem sou", em verdade é sem dúvida alguma o Brahman mesmo.
O discípulo disse:
9. Senhor, até agora eu não conheço claramente o significado de [cada uma] das palavras: Como posso compreender então o significado da sentença "Eu sou Brahman" ? Por favor, explica-me.
O mestre respondeu:
10. Tens razão. Em conseqüência não deve surgir nenhuma dúvida sobre esta questão. A interpretação exata de cada termo é essencial para compreender a sentença.
11. Porquê não reconheces o Si mesmo, que é puro Ser e possui a natureza da Beatitude, como a unidade da Consciência que é testemunha da mente e de suas modificações?
12. Depois de separar a falsa noção de que o [Si mesmo] se identifica com o corpo, etc., procure se dar conta através do conhecimento, que sempre és o Si mesmo, a unidade de Consciência-Conhecimento que possui a natureza da Existência e da Beatitude absoluta e é testemunho do intelecto.
13. Assim pois, o corpo burdo não pode ser o Si mesmo, já que está dotado de forma, etc., como são o vaso de outros objetos [produtos], e também porque consiste em uma transformação do éter e dos demais elementos burdos como é o vaso [ com respeito a argila].
O discípulo disse:
14. Se este corpo burdo fosse reconhecido como completamente diferente do Si mesmo, então, de acordo com o que dissestes, mostra-me, por favor, o Si mesmo diretamente como um fruto do miróbalo na mão.
O mestre respondeu:
15. Tens que considerar atentamente isso: da mesma maneira que o que vê um vaso é diferente do mesmo vaso e de nenhuma maneira se identifica com ele, assim, eu que vejo o corpo burdo, não sou este corpo.
16. Da mesma maneira reconheça que chegamos a seguinte conclusão: eu, que sou testemunha dos órgãos sensoriais [etc.], não sou esses mesmos órgãos. Medita pois, assim: eu não sou a mente, nem o intelecto, nem tampouco a força vital...
17. ... nem tampouco sua combinação. Discrimine claramente e com inteligência que o Testemunhador é diferente de tudo o que é objeto da percepção.
18. Medite assim: Eu sou Isso e cuja a presença diante de todos aqueles entes [inertes] como o corpo, os sentidos, etc., se tornam capazes de produzir atividades de maneira dependente.
19. Medite assim: Eu sou Aquele que por natureza carente de toda a mudança e sendo o interior [de tudo], impulsiono o intelecto e as demais funções ao movimento, como um ima e as peças de ferro.
20. Medite assim: Eu sou Aquele que graças a vencidade do corpo, os sentidos e as forças vitais, ainda que inertes por si mesmas, parecem dotadas de consciência como o Si mesmo.
21. Medite assim: Eu sou Aquele que é Testemunho da função do intelecto [e pode expressar-se] como: "agora minha função mental está ausente, agora está presente".
22. Medite assim: Eu sou Aquele que, livre de toda a atividade transformante e imediatamente presente, é Testemunho do estado de vigília, do sonho e do sono profundo e, ao mesmo tempo, da presença ou ausência do intelecto.
23. Assim como a lâmpada que ilumina um lustre é diferente do mesmo lustre, da mesma maneira, "Eu sou aquela unidade absoluta de Consciência que, como Si mesmo encarnado, ilumina o corpo [etc.]".
24. Medite assim: Eu sou o Testemunho querido por todos graças a quem ama a todas as coisas que existem , como progenes, riquezas, etc.
25. Eu sou o Testemunho, o objeto do amor supremo para quem [se diz] "nunca cessei de viver e para quem eu sempre possa existir".
26. Se diz que o significado da expressão Tu [na sentença "Tu és Isso"] consiste no mesmo Conhecimento-Consciência que representa o Testemunho. A função de conhecedor, pois, não é mais do que a função de testemunho por parte do Si mesmo eterno e imutável.
27. Assim, o que indica a expressão "Tu" é absolutamente diferente do corpo, dos sentidos, da mente, da força vital e inclusive do sentido do eu, e não está condicionado por aquelas seis trasnformações típicas que caracterizam os objetos inertes.
28. Depois de ter entendido perfeitamente o verdadeiro significado da expressão "Tu", deverias meditar incessantemente sobre o significado essencial da expressão "Isso", ou seja, através da negação das sobreposições, ou ainda, através de sua afirmação direta.
29. Aquele que transcende totalmente qualquer condição limitante do devir e que se possa definir no burdo ou denso, etc., Aquele que por natureza não pode tornar-se objeto da percepção-conhecimento e que transcende inclusive aquela impureza-sobre-imposição que é a ignorância.
30. Aquele muito além, que não existe ulterior Beatitude, que é a unicidade absoluta de Existência e Conhecimento, definido como o Ser auto-existente e é plenitude, Isso é conhecido como Si mesmo supremo.
31. Pois bem, reconhece o Brahman como Isso cuja onisciência, cuja suprema senhoria, perfeição-cumprimento e poder ilimitado, se celebra nos Vedas.
32. Reconhece o Brahman - como se declara nas escrituras por múltiplos exemplos da argila, etc., - como Isso em virtude de cujo conhecimento-realização se tem consciência de todas as coisas.
33. Reconhece o Brahman como Isso, que a Shruti quer mostrar a infinidade, definindo o universo como Sua modificação aparente.
34. Conhece o Brahman como Isso que nas escrituras dos Upanishads se define com extremo cuidado como objeto da busca por aqueles que aspiram a liberação.
35. Conhece o Brahman como Isso, que se fala nos Vedas na virtude de sua compenetração nos jivatmas e pela função de sustentação [ainda como não-agente] exerce à eles.
36. Conhece o Brahman como Isso que na Shruti se diz que alonga os frutos das ações e impulsiona os jivas ao seu cumprimento.
37. Depois de especificar o significado real das expressões "Tu e Isso", passamos a examinar agora, o significado de toda a sentença. Neste contexto, se expressa uma identidade real entre os significados de ambas expressões.
38. Não se deve interpretar , pois, a sentença, nem o sentido de uma conexção recíproca, nem como uma qualificação mútua [das expressões]. De acordo com os Sábios, o significado da sentença consiste em uma identidade absoluta.
39. Aquele que se manifesta como íntima consciência-conhecimento [jiva], não é outra coisa senão. Beatitude não-dual; e aquela essência que consiste na Beatitude sem dualidade não é outra coisa senão, a mesma íntima Consciência-Conhecimento.
40. Assim, quando se realiza conscientemente sua recíproca identidade, então, a [presunçosa e sobreposta] diversidade do Brahman, naquilo que indica a expressão "Tu", desaparece imediatamente...
41. ... e o mesmo ocorre para o conhecimento daquilo que indica a expressão "Isso"; O que acontece quando isto sucede? Escuta: [quando se compreende essa identidade] a consciência-conhecimento íntima [que é o jiva] se dissolve na própria essência que é Unidade absoluta e plena de Beatitude.
42. Deve-se compreender a sentença "Tu és Isso" e as outras [maha-vakyas] com o fim de estabelecer a identidade do que está estabelecido indiretamente através das duas palavras: "Tu e Isso".
43. Desta maneira, explicamos como a mesma sentença, ao abandonar o sentido direto das expressões, revela seu significado verdadeiro [de unidade-identidade].
44. O conhecimento associado com o órgão interno, que constitui o conteúdo essencial da palavra e da noção "eu", expressa o significado direto da expressão "Tu"...
45. ... contraditoriamente, o significado direto da expressão "Isso" representa Aquele cuja maya está sobreposta, do Qual é o fundamento da causa do mundo; "Isso" está definido como onisciente, etc., e ao ter a natureza do verdadeiro Ser, etc., somente pode ser assinalado indiretamente.
46. Agora, dado que por parte de um mesmo e único ente, as propriedades de ser conhecido direta e indiretamente e as propriedades de possuir um segundo e de ser ao mesmo tempo, unidade absoluta, estão em contradição evidente, [na sentença "Tu és Isso"] se deve chegar a uma interpretação por implicação.
47. No caso de, admitindo em uma expressão, o significado diretamente expressado, sugere-se uma incongruência com outra modalidade de conhecimento, então, aquele significado claramente inteligível por Si mesmo, mas conectado com o que está expressado diretamente, se chama significado implícito.
48. Em sentenças como: "Tu és Isso" ou em outras, a interpretação indireta consiste em uma implicação parcial [que somente desfaz a parte contraditória dos sentidos diretos, deixando a parte auto-evidente], como nos caso das expressões ou em uma frase como: "isto é isso" - e outras - não existe outro tipo de implicação [parcial].
49. Deveria-se exercitar mais a escuta [além da reflexão e a meditação das Escrituras] conjuntamente com o controle da mente e outras disciplinas interiores, até que a compreensão do verdadeiro significado da sentença "Eu sou Brahman" seja plenamente efetiva.
50. Quando pela graça do Mestre e das Escrituras, este Conhecimento-Consciência se assente, então, o ser haverá extinguido para sempre toda a causa da existência transmigratória.
51. Este, com a dissolução do corpo burdo (denso) e do corpo sutil, ao ser independente dos elementos sutis e livre do aprisionamento da ação [finalizada], se libera imediatamente.
52. Assim, com a extinção da escravidão determinada pelas ações trasncorridas, que todavia não deram resultado, quando em qualquer momento suceda, ainda assistindo com desapego as conseqüências das ações passadas, é então quando acontece a liberação na vida.
53. Ele realiza o supremo Absoluto, que é a suprema Beatitude, como dizer que conseguiu a Morada suprema do que tudo abarca e de onde não existe regresso.
Aqui termina a Exposição da sentença composta por Shri Shamkaracharya, grande Mestre e Paramhamsa itinerante.

Um comentário:

Altair P.Jr. disse...

Excelent Mestre, vou guardar para esdutar, @brços