terça-feira, 11 de março de 2014

DE VOLTA AOS REGISTROS DE TEXTOS

Começamos com um mantra: 

"Maha Vakratunda
Suryakoti Samaprabha
Nirvighnam Kuru Mey Deva
Sarva Kaaryeshu Sarvada"


Existem três perguntas internas que só deverão calar-se para sempre quando forem respondidas:
De onde viemos, Para onde vamos e Quem somos?

Parece que tudo é uma questão de pressa ou intensidade.

Para aqueles que gostam de perguntar e sua atenção é tão dispersa quanto um balão ao sabor do vento e esquecem rapidamente inclusive o que perguntaram; sua preocupação está mais voltada para o futuro, então, querem saber para onde irão. Estes vivem preocupados com o que os outros pensam deles mesmos e tudo o que fazem está voltado para o exterior, as impressões, status, etc. Estes, independentemente do que você disser, nenhuma resposta irá lhes satisfazer, pois, seguirão buscando externamente suas respostas.

Para aqueles cuja suas perguntas têm um certo grau de inteligência e real preocupação com a resposta e estão dispostos a ouvir, mas vêem grandes dificuldades de empreender esforços para modificar o que já está estabelecido em seus hábitos e vícios. Estes, estão mais preocupados com seu passado e, então querem saber de onde vieram. Estes vivem preocupados com seu interior. De natureza mais introspectiva, ocupam seu tempo em descobrir uma forma de livrar-se de seu passado e tudo o que ele representa em suas proibições, medos, limitações, etc. Acreditam realmente que se souberem o que aconteceu em seu passado podem reverter os acontecimentos do momento presente. Vivem achando que o problema são eles e que existe alguma de errado com eles e se prendem em suas próprias amarras e não se satisfazem também com as respostas externas sem passe por uma avaliação criteriosa de sua mente e pouco se permitem a mudar, aliás, esse é um de seus grande medos na vida.

Mas para aqueles cuja suas perguntas passam por um processo de intenso desespero interno por ansiar ou obter essa confirmação e todos os seus esforços, objetivos e tempo empreendido é só um, descobrir quem realmente é, estes, estão mais preocupados em obter essa graça e todas as suas tarefas têm como preocupação o momento presente, pois acredita que os mistérios da vida passa pelo que vivenciamos e testemunhamos no presente. Estes estão mais próximos de descobrir quem são. 

Viver no presente pode parecer que o indivíduo em suas ações cotidianas, viva despreocupado com seu futuro, mas na verdade sabe que seu futuro depende e muito do que ele fizer agora. Suas ações presentes necessitam de um grau de discernimento capaz de manter o que for necessário e se desfazer do que for desnecessário sem que isso cause internamente grandes revoluções de dúvidas, inseguranças ou medos. 

Portanto, viver no presente parece ser o grande desafio de todos nós que vai se revelando em cada ato, pois cada ato é um reflexo de nossas ações e nossas ações, por sua vez, é um reflexo de nossas atitudes e é ai que mora o mistério da força natural do karma yoga ou atitudes da ações. 

Atingir realmente a maturidade espiritual é algo que demanda esforço, dedicação e paciência e estas são virtudes do verdadeiro praticante de Yoga, pois estes estão realmente ocupados e utilizam todo o seu precioso tempo para evoluir e ensinar algo verdadeiro, baseado em suas experiências vividas no presente. 

Ao encontrar a resposta final "Quem somos" responderia também as outras perguntas; "De onde viemos e para onde vamos". 

Aguardem a continuidade... 


terça-feira, 27 de setembro de 2011

LAGHU VÂKYA VRITTI


BREVE EXPOSIÇÃO SOBRE AS SENTENÇAS VÉDICAS - Adi Shankaracharya


O CAMINHO DA MEDITAÇÃO 


INTRODUÇÃO 


O estudioso do Vedanta deve distinguir entre a Consciência Refletida (Bodha-Bhasa) e a Consciência Pura (Shuddha-Bhasa). Bhoda-Bhasa é a consciência empírica empregada cotidianamente em cada momento da vida, como: pensar, conhecer, determinar, sentir, etc. Shuddha-Bhasa, por outro lado, é o fundamento imutável e infinito de todos os fenômenos, inclusive dos movimentos de nosso corpo e mente. É o testemunho (Sâkshin), sem princípio nem fim,  de tudo o que foi, é e será. Em si, Shuddha-Bhasa é Nirvikalpa ou além do alcance das idéias. Shuddha-Bhasa é a que outorga a luz a Consciência refletida (Bhoda-Bhasa). 

De acordo com este texto, Laghu Vâkya Vritti, o Jiva, ser empírico, é um reflexo da Consciência Pura sobre Buddhi. Esta idéia (Pratimba-Vada) baseada em algumas sentenças dos Upanishads. Shankaracharya, em outros textos, fala sobre Jiva, como uma aparente "limitação" da Consciência. Esta "limitação" é produzida por Buddhi (Avaccheda-Vada), do mesmo modo que o espaço infinito (Âkâsha) é aparentemente limitado por uma jarra ou uma casa. A teoria da limitação do Jiva também pode ser sustentada baseada em diferentes passagens dos Upanishads. Nos textos vedânticos posteriores a Shankaracharya, aparecerem controvérsias complicadas com respeito a estas duas teorias. O estudante imparcial do Vedanta não vê estas duas teorias como necessariamente antagônicas, mas como dois pontos de vista diferentes sobre o mesmo assunto. Cada ponto de vista possui mérito e servem de ajuda ao buscador da Verdade. Jiva é uma verdade empírica e, como tal, permite sustentar diferentes pontos de vista. A Verdade Absoluta, nosso Ser Verdadeiro, está seguramente livre de qualquer controvérsia escolástica. 


O TEXTO (não comentado) 

1. O corpo físico (Sthula Sharira) é o veículo denso de Âtman. Os desejos, junto com os órgãos da percepção (Jñâna-Indriyas) e de ação (Karma-Indriyas), as forças vitais (Prânas), o intelecto (Budhi) e a mente (Manas), constituem o veículo sutil (Linga Sharira)

2. A ignorância (Avidyâ) produz o veículo causal (Karana Sharira). A consciência Pura (Shuddha-Bhoda)  está por trás dos três veículos como testemunha (Sâkshin) e iluminador. O reflexo da Consciência Pura sobre o intelecto (Budhi, que adquiriu o sentido da individualidade devido a ignorância), foi convertido em Jîva, ou alma individual, que é o agente de todo o bem e o mal. 

3. Este Jîva (isto é, o Jîvâtma ou Consciência refletida ligada ao veículo sutil) é aquele que está constantemente migrando nos mundos (o presente e o que está além), pela força impelida por suas próprias ações (Samskaras), positivas e negativas. Portanto, o obstáculo supremo da vida consiste em discriminar a Consciência Pura de seu reflexo, ou seja, o Jîva. 

4. As atividades mentais da Consciência refletida (Jîva) estão limitadas aos estados de vigília (Jagrat Avastha), sono com sonhos (Svapna Avastha), enquanto que o sonho profundo (Sushupti Avastha), a Consciência refletida e aquele que reflete e o intelecto (Budhi), são absorvidos na ignorância e, portanto, a Consciência Pura ilumina somente a Ignorância.

5. Mesmo que em vigília (acordado), a quietude da mente é iluminada pela Consciência Pura. Da mesma forma, as atividades da mente com a Consciência refletida, devem sua manifestação à Consciência Pura. 

6. Assim como a água fervida ao fogo adquire calor e desse modo pode vir a queimar o corpo; da mesma forma, a mente (intelectual) iluminada pela Consciência Pura adquire seu brilho e ilumina igualmente todos os outros objetos externos. 

7. As noções de bem e mal, com respeito aos objetos da sensação, são criações da mente (intelecto). A única coisa que a Consciência Pura faz, é iluminar essas atividades da mente junto aos objetos externos. 

8. A Consciência Pura e Absoluta (Shuddha Bodha) é diferente dos objetos da sensação e também das noções de bem e mal atribuídas pela mente. Entretanto, Shuddha Bodha é aquele que dá cognição a todos eles (objetos e sensações) e, como tal, é a única iluminadora. 

9. As flutuações da mente mudam de um momento para outro, mas isso nunca acontece com a Consciência Pura. Ela penetra todas essas flutuações como o fio de um colar de pérolas. 

10. Assim como o fio coberto por pérolas é percebido pelo espaço entre elas, assim também a Consciência Pura, mesmo que oculta pelas flutuações da mente, brilha claramente entre o espaço de duas flutuações quaisquer. 

11. A Consciência Pura e Não-Modificada brilha claramente por Si mesma no intervalo da mente, quando a anterior flutuação já cessou e a próxima não apareceu ainda. 

12. As pessoas que desejam experimentar Brahman deverão, portanto, praticar lenta e gradualmente a restrição das flutuações, começando a princípio com um minuto e em seguida aumentando para dois, três, etc... 

13. Este ser individual (Jîva), que é afetado pelas flutuações da mente, com o tempo se tornará Uno com Brahman Não-diferenciado ao realizar a Verdade do ensinamento Védico: "Eu sou Brahman". Esta é a ideia que este tratado ensina. 

14. Embora a Consciência refletida (Jîva) esteja envolvida nas flutuações da mente, é verdadeiramente una com Brahman Não-diferenciado. As flutuações aparentes, que sempre são evidentes (por estarem associadas com a Consciência refletida), deveriam ser suprimidas com toda a força para que a Realização de Brahman possa acontecer. 

15. Se o indivíduo for capaz de suprimir definitivamente todas as flutuações, então será abençoado com a concentração perfeita (Samâdhi), apreciada amorosamente por todos os sábios. Entretanto, se isso não for possível, o indivíduo deve realizar sua própria natureza brahmanica, controlando as flutuações (alterações) em todos os momentos. 

16. Tendo compreendido verdadeiramente  o ensinamento "Eu sou Brahman", um indivíduo cheio de fé deve meditar constantemente até onde seja possível para identificar-se com Brahman, por meio das faculdades do intelecto em acordo com essa ideia. 

17. Meditando sobre Aquilo, falando sobre Aquilo, instruindo-se sobre Aquilo e, de uma forma ou outra, absorvendo-se Naquilo: tudo isso foi conhecido e ensinado pelos sábios como a prática de Brahman. 

18. O cumprimento dessa prática repousa na firme convicção da própria identidade com Brahman, sendo semelhante a identidade que o Ser (Âtman) tem com seu corpo. Aquele que tenha realizado isso estará liberado sem dúvida nenhuma; seu corpo pode morrer quando e onde   quiser. 

Aqui termina o comentário (Pushpañajli) sobre o Vêdanta Prakarana intitulado Laghu Vâkya Vritti.  









quarta-feira, 19 de março de 2008

Amrita-Bindu-Upanishad

Doutrina Secreta da Fonte da Imortalidade


Introdução


A Amritabindûpanishad, conhecida também como Brahmabindûpanishad, é um texto curto com somente 22 versos.


Forma parte do grupo das cinco "Bindu Upanishad", que pertence ao Krishna Yajur Veda.


O termo Bindu (literalmente significa "ponto, gota"), possui aqui o sgnificado de "semente", "fonte", com todo o tipo de conotação esotérica. Este contexto é bem provável que se refira a mente mesma (manas) que é fonte tanto da liberdade quanto da escravidão.


Esta Upanishad diferencia a meditação pronunciando a sílaba om e a prática masi avançada inaudível ou sem pronunciação (asvara) da sílaba, somente possível por meio das técnicas de yoga.


Também se refere a estes conceitos com os termos, deletrado/paracedeiro (kshara) e não deletrado/imparecedeiro (akshara).


Com a meditação no segundo aspecto deste grande mantra, é assegurado ao praticante a serenidade mental.


Neste ponto é aconselhável ao praticante abandonar todo o conhecimento intelectual, igualmente como se desprende o grão da casca.


A última realização deste Mantra Yoga é a identificação com o Absoluto na forma de Vasudeva (uma das denominações do Divino).




Texto

1. A mente possui duas formas: pura e impura. A (mente) impura (esta possuída pelo) desejo e a vontade; a (mente) pura não possui desejos.

2. A mente é a única causa da liberação (moksha) e da escravidão das pessoas. Apegada aos objetos (conduz) a escravidão; liberada dos objetos é considerada (que conduz) a liberação (mukti).

3. Aquele que busca a liberação deve manter sua mente pura e vazia de objetos, pois a liberação só é possível a mente desprovida de objetos.

4. A mente, (uma vez) liberada do contato com os objetos e confiada no coração, alcança o estado de não-essência (abhâva) que é o Supremo Estado.

5. (A mente) deve manter-se vigiada e controlada até sua (completa) dissolução no coração. Assim, (se alcança) sabedoria (jñana); assim (se pratica) a meditação (dhyâna). O resto é vã especulação.

6. (O Supremo Estado) não é algo sobre o qual se possa pensar (como algum atributo divino positivo), nem algo impensável (como algum atributo negativo ou desagradável); ainda que não se possa pensar (como possuidor de forma), (é o único que vale a pensa) pensar (como a essência sempre manifesta, eterna e totalmente feliz em si mesma). (Quando) nos liberamos destes pontos de vistas parciais, então, se alcança o Absoluto (Brahman).

7. (Primeiro) se deve praticar corretamente a meditação em Om como som, atento ao significado de sua pronunciação (svara). (Depois) se deve meditar em Om com ausência de som, sem pronuncia-lo (asvara). Por meio da perfeição desta segunda forma de meditação, se alcança a existência na inexistência (abhâva).

8. Isso realmente é Brahman, (que é) imóvel, indivisível e sem defeito algum. Por meio da compreensão "eu sou Brahman", sem dúvida se alcança Brahman.

9. "(Brahman) é sem forma, infinito, sem causa ou precedente, sem medida e sem começo". Com esta compreensão, o sábio se libera.

10. "(No estado de Brahman) não existe nem dissolução nem criação; não existe escravizado nem realizado, nem buscador da liberação, nem liberado". Esta é a verdade suprema.

11. Realmente, âtman (si-mesmo-individual) não muda nos estados de vigília, sono (ligeiro) e sonho (profundo). Para quem transcende estes três estados não existe a reencarnação.

12. O si-mesmo elemental (bhûtâtman) que mora em cada ser, não é outro, mas o mesmo. Se conhece como um e muitos (ao mesmo tempo), como o (reflexo) da lua na água.

13. Como o espaço (âkâsha) (que não se altera) dentro de um recipiente quando este se move ou como o espaço (que não se afeta) que se destrói o recipiente - de forma parecida, a psique (jiva) se assemelha ao espaço.

14. Quando as diversas formas, como o recipiente, se destróem uma e outra vez, âkâsha (ou a psiquê, jiva) não é consciente dele, mas (o si-mesmo, âtman) o sabe perfeitamente.

15. Coberto pela ilusão (maya) e (cegado) pela obscuridade, não alcança a Fonte da Diversidade (pushkara, o Absoluto). Quando se dissipa a obscuridade, mora em si mesmo e somente contempla a Unidade (ekatva).

16. O som infinito (akshara) (da sílaba sagrada Om) (se realiza primeiro como) o Supremo Absoluto (Brahman). Quando (a idéia da palavra Om) se desvanesceu, o que (permanece) é o Absoluto (Brahman). Para o sábio obtenha paz, deve meditar no infinito (akshara).

17. As duas (formas) de conhecimento (vidyâ) são; o Absoluto com som (Shabda-Brahman) e o que transcende (Para-Brahman). Quem dominou o (estado de) Brahman com som, conquista o (estado) Supremo de Brahman.
18. O sábio que pretende (alcançar) este (Brahman) por meio da sabedoria (jñâna) e o conhecimento (vijñana) (obtidos) estudando as escrituras, deve desfazer-se de todos os livros, assim como (se desfaz) a casca para obter o grão.
19. As vacas (de diferentes cores) dão leite da mesma cor - (o sábio) compara a sabedoria (jñâna) com o leite e os numerosos caminhos (livros) com as vacas.
20. O conhecimento (vijñâna) se faz oculto em cada ser, como a manteiga (guee) no leite. Se deve bater constantemente (este conhecimento) utilizando a mente como um instrumento para bater o leite.
21. Tirando a corda da sabedoria (jñâna-netra), se deve extraír o Supremo (Para-Brahman), do mesmo modo que o fogo (é extraído da madeira por meio da fricção), lembrando "eu o indivisível, imutável e calmo Brahman".
22. (Brahman) mora em todos os seres e é a morada de todo o ser para o benefício (de todos) - este Vasudeva, Essência Suprema e Alma do Universo, sou eu.
Tal é este Upanishad
Sri Swamiji Shankara Saraswati Maharaj











quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

YOGA HAMSA UPANISHAD

Doutrina Secreta do Cisne Místico



Introdução

Esta Upanishad trata do conhecido termo sanscrito "hamsa". Forma parte do Sukla Yajur Veda e consta de vinte e uma sessões curtas onde se expõe de forma muito condensada a teoria e a prática do mantra hamsa.

Escrita em forma de diálogos entre o sábio Sanatkumara e seu discípulo Gautama, o ensinamento proposto pode ser enquadrado dentro do kundalini yoga. A Upanishad aconselha praticar a recitação silenciosa de hamsa a aqueles incapazes de contemplar diretamente o si-mesmo-transcedental. Isto implica na observação conscinete da "pregaria" espontânea da respiração. Desta forma, afirma o texto, se geram todo o tipo de sons internos (nada). Afirma que hamsa penetra no corpo como o fogo penetra a madeira ou o azeite impregna a semente de sésamo.

O texto menciona oito funções principais de hamsa, mas realmente descreve doze, relacionadas com o "lótus do coração" (hrit padma). Também dá uma descrição dos dez níveis de manifestação do som interno, associando-os com diferentes fenômenos, os quais se tornam significativos a partir do quarto: tremor na cabeça, profusão do néctar da imortalidade (amrita), desfrute do fluido da ambrosia, aquisição do conhecimento secreto, perfeição do discurso (para-vak), habilidade para tornar-se invisível e contemplar o infinito e, finalmente, identificação com o Absoluto. Pede-se ao praticante que se concentre no décimo nível, do som mais sutil semelhante a um trovão (megha nada).

Todo esse processo conduz a identificação com o si-mesmo-transcedental, a realização de Sada-Shiva, o Shiva Eterno", que é o resplandescente e pacífico sustentador de todo a existência.



TEXTO


Om! Este (brahman) é infinito e este (universo) é infinito.

O infinito procede do infinito.

(Inclusive) extraindo a infinitude do infinito (universo),

o único que permansce é o infinito (Brahman).

Om! Penetre em mim a paz!

Haja paz ao meu redor!

Haja paz nas forças que atuam em mim!


1. Gautama se dirigiu a Sanatkumara da seguinte forma: "sábio Senhor, que conhece todos os Dharmas e és o expert em todos os Shastras, rogo-te que me indiques o caminho que tenho que adotar para compreender Brahma Vidya (conhecimento do Absoluto)".
2. Sanatkumara respondeu: "te ensinarei Gautama, a doutrina fundamental (tattva) tal como foi exposto por Parvati (esposa de Shiva) depois de compreender todos os ensinamentos de Shiva e analisar completamente todos os Shastras".

3. Sanatkumara continua: "este ensinamento é muito secreto e o yogue deve preserva-lo cuidadosamente como um grande tesouro; o ensinamento permite compreender a natureza de hamsa; o praticante alcançará assim, a liberação e o conhecimento puro (de Brahman); por tanto, não deverá ser mostrado a quem não estiver suficientemente qualififcado para assimilar tais resultados".

4. Sanatkumara prossegue: "agora vou explicar-te detalhadamente a autêntica natureza de hamsa para benefício do brahmacharin (estudante de yoga), que dominou seus sentidos e venera seu guru.

5. Quem compreende a Essência Suprema que mora em todo o ser como a inerente presença do fogo nas brasas ou do azeite nas sementes de sésamo, nunca encontrará a morte.

6. Efetuar a contração anal (asvinimudra) com o calcanhar no períneo; elevando o vayu (prana ou kundalini) a partir do chakra raiz (muladharachakra) e dar três voltas ao chakra svadhisthana, atravessando manipurachakra, cruzando anahatachakra e meditando no brahmarandhra (na cabeça); compreenderá que a autêntica natureza do si mesmo, carece de forma.

7. O sisna (pênis) possui dois lados (esquerdo e direito, conforme se observa para baixo). (Realmente) é paramahamsa (o supremo hamsa, o supremo si-mesmo) com o resplendor de olhadas as estrelas, do qual graças a isso surge (se fertiliza) todo o universo.

8. (Este hamsa que possui buddhi como veículo) possui oito vrittis (pétalas, no lótus do coração).

9. (Quando se contempla hamsa) na pétala oriental, (a pessoa) inclina-se uma grande atividade; na pétala sul-oriental surge o sonho, preguiça, etc.; na do sul, existe inclinação a crueldade; na do sul-ocidental, existe uma inclinação aos pecados; na ocidental uma inclinação a ativdade sensual; no norte-ocidental, é despertada o desejo de caminhar, entre outros; no norte, aparece o desejo de luxúria; no norte-oriental, o desejo de armanzenar riquezas; no meio (nos espaços entre as pétalas), existe indiferença diante dos prazeres materiais.

10. (Quando se contempla hamsa) no talo (do lótus do coração), surge o estado de vigília; no pericárpio aparece svapna (sono ligeiro, com sonhos); no bija (semente do pericárpio) surge sushupti (sonho profundo, sem sonhos); ao deixar o lótus, aparece turiya (quarto estado).

11. Quando hamsa está absorto em nada (som místico), se alcança um estado muito além do quarto. Nada (que está no limite do som e além da palavra e da mente) permanece como cristal puro (e) se estende do muladhara ao brahmarandhra. Isto é (realmente) Brahma ou Paramatman.
12. (A continuação versa sobre o ajapa gayatri): agora hamsa é o rishi; a medida é avyakta gayatri (o imanifestado); paramahamsa (o absoluto) é devata (deidade que preside), "ham" é bija; "sa" é Shakti; so'ham (o som do ar ao respirar) é kilaka (a união). É composto, (portanto), de seis formas.
13. São produzidos 21.600 hamsa (ou respirações) durante um dia completo. (Saúdo a) Surya, Soma, Niranjana (o puro) e Nirabhasa (o ilimitado).
14. Ajapa mantra. (Que) a sutil e carente forma seja um guia (e ilumine minha compreensão). Agora deve-se praticar (a contemplação) anganyasas e karanyasas (deve ser efetuado recitando o mantra) no coração e em outros (lugares).
15. Uma vez assim feito, se deve contemplar hamsa (o cisne místico) como atman no coração; agni e soma são suas asas (lados direito e esquerdo); omkara é sua cabeça; ukara e bindu são os três olhos e a face, respectivamente; Rudra e Rudrani (Shiva e Shakti) são os pés.
16. Kanthata (a compreensão da unidade entre jivatma ou hamsa, o ser individualizado e paramatman, o ser absoluto) se realiza de duas maneiras (samprajñata e asamprajñata).
17. Despois disso, unmani (estado de realização, além do mental) se fará ao final do ajapa (mantra). Uma vez refletido assim em manas por meio deste (hamsa), se escuta nada como fruto de uma longa recitação deste ajapa (mantra). Nada possui dez formas (níveis) de manifestação.
18. A primeira chama-se chini (como o som desta palavra); a segunda, chini-chini; a terceira é o som de uma campaínha; a quarta é o som da concha; a quinta é o som do tantiri (alaúde); a sexta é o som de tala (címbalos); a sétima é o som da flauta; a oitava é o som do bheri (tambor); a nona é o som do mridanga (tambor duplo) e a décima é o som das nuvens (isto é, de um trovão).
19. É possível experimentar o décimo nível sem (experimentar) os nove primeiros sons (através da iniciação com um guru).
20. Na primeira fase, o corpo se torna chini-chini; na segunda existe o estremecimento (bhanjana) no corpo; na terceira existe a penetração (bhedana); na quarta, a cabeça treme, na quinta, o paladar produz néctar (amrita); na sexta, é desfrutado o néctar da imortalidade; na sétima, surge o conhecimento do oculto (no mundo); na oitava, é aperfeiçoado o discurso (para-vak); na nona, o corpo se torna invisível e se desenvolve a visão divina e na décima, se conquista a identificação do para-brahman com atman que é Brahman (identificação com o absoluto).
21. Depois disso, uma vez destruído ou dissolvido manas, fonte de sankalpa e vikalpa, e devido a destruição destes dois, quando destruídas as virtudes e os pecados, então, resplandescerá como Sadashiva com a natureza de Shakti que o invadirá por inteiro, sendo reluzente em sua autêntica essência, imaculado, eterno, puro e o om mais puro. Assim é a essência dos Vedas; e assim é o Upanishad.
Sri Swamiji Shankara Saraswati Maharaj









terça-feira, 30 de outubro de 2007

YOGA DARSHANA UPANISHAD

A Doutrina Secreta do Sistema (YOGA)


Introdução


Este Upanishad és um texto de redação clássica, pois se apresenta como ensinamentos dados pelo liberado Dattatreya ao sábio Samkriti. Por outro lado, as matérias ensinadas expõem em ordem natural, calcado sobre as indicações do ashtanga yoga de Patanjali. O mesmo título sugere um resumo dos ensinamentos existentes, no qual a obra se converte em um dos últimos textos existentes neste gênero de literatura.


Entretanto, os autores intercalaram em diversas partes do texto, lições concernentes a materiais que não aparecem nos yoga-sutras. Assim é, por exemplo, a teoria dos nadis (canais por onde circulam os alentos vitais) e uma longa explicação sobre a geografia do corpo sutil (com suas montanhas, rios e lugares de peregrinação). Da mesma forma, são modificados e ampliados para dez, o número de preceitos ético-morais (yama e niyama).
O yogadarshanaupanishad está dividido em dez khandas (capítulos ou seções) de longitude desigual. Existe, surpreendentemente, uma desproporção entre os diferentes capítulos: dez estrofes (slokhas) para o Samadhi, diante de cinqüenta para o Pranayama, apenas seis para Dhyana e mais de sessenta estrofes para falar sobre os Nadis. Muito provavelmente, os autores deste Upanishad pensaram que existia uma carência de utilização a repetição com clareza e precisão, os ensinamentos dos Yoga-Sutras sobre questões técnicas, mas que era missão sua comunicar alguns dos comentários que fazia seu Guru. Assim, por exemplo, no capítulo consagrado a Dharana (fixação da atenção sobre um só ponto) não menciona nada sobre a técnica a ser empregada para conquistar esta imobilidade do complexo mental, mas ensina que os adeptos farão um bem utilizar Dharana para reconhecer em seu corpo a presença dos cinco elementos com as divindades que são guardiãs. Neste terreno, o Upanishad preferiu dar uma ensinamento paralelo e complementar daquele que contém os textos básicos; ao fazê-lo, nos transmite, sem dúvida, as lições originais do mestre que redigiu sua elaboração.
O interesse do yogadarshanaupanishad radica, pois, essencialmente nas doutrinas esotéricas referentes a anatomia sutil e sua analogia com o mundo terrestre: os nadis são rios providos de lugares sagrados (tirthas). Estes lugares de peregrinação, freqüentados pelos devotos de diversas seitas hinduístas, são no corpo sutil, pontos previlegiados que devem ser reconhecidos com a ajuda do guru. Da mesma forma, relaciona-se com a circulação do prana no corpo ao compasso do sol através do zoodíaco.
Não menos interessante, é notar que o yogadarshanaupanishad se esforça em reconciliar o vedanta com o yoga; o "leit-motiv" do texto é que o atman é idêntico a brahman e que sendo este, essência pura, transcende absolutamente o mundo dos fenômenos; em última instância, surge a dúvida sobre a existência do universo, pois, os autores chegam a afirmar que não existe mundo fenomênico (X.3), posição extrema que dá lugar a negação a tudo o que não é brahman: o próprio samsara (transmigração) não é outra coisa senão, uma ilusão que carece de realidade.
Conseqüentemente, o "fruto" do yoga é, para o adepto, ter consciência dessa realidade com a ajuda da meditação e outras práticas que conduzem ao samadhi, entendendo que nada existe (fora de brahman). Conquistando, adquire esse estado de solidão transcedental (kaivalya) já proposto no yogasutras como objetivo a aqueles que iniciavam o caminho do yoga.

Texto:

CAPÍTULO 1: YAMA
I.1. O grande yogue Dattatreya, magnânimo senhor, é Ele, Vishnu, o grande, o de quatro braços, que reina absolutamente sobre a ciência do Yoga.
I.2. Assim pois, seu discípulo favorito, Samkriti Maharishi, um dia estava a sós com seu santo guru, inclinando-se diante Dele, assim falou juntando as mãos em sinal de respeito.
I.3. "Ensina-me, senhor, esta ciência do yoga, com seus oito membros, pois sei que conhecendo-a me converterei em um liberado em vida (jivanmukti)".
I.4. Vishnu respondeu: "Escuta-me bem Samkriti, vou ensinar-te o Yoga".
I.5. Os oito membros são: abstenções (yama), observações (niyama), posições (asana), controle da energia fundamental (pranayama), abstração sensorial (pratyahara), concentração (dharana), meditação (dhyana) e interiorização completa (samadhi).
I.6. As dez abstenções são: não causar dano, comunicar-se com sinceridade, não roubar, moderação nos prazeres sensuais, compaixão, equanimidade, força de espírito, confiança (em alcançar o objetivo), moderação na dieta e limpeza.
I.7-8(a). Não causar dano a nada em ato, palavra ou pensamento, é ahimsa, de acordo com o veda, pois atman esta presente em tudo, inacessível aos sentidos, em todos os seres.
I.8(b). Reconhecer a atman em tudo é o ahimsa verdadeiro, como afirmam os sábios.
I.9-10. O verdadeiro é o que se percebe através da visão, ouvido e os outros sentidos, pois tudo o que existe é brahman, como dizem os que sabem.
I.11. Não cobiçar com o pensamento o bem alheio, seja prata, ouro jóias ou pérolas, é a honradez.
I.12. E no atman não ver o contrário, é ser mais honrado ainda: assim expressam os que sabem.
I.13. Praticar a moderação sensual, aplicando teu espírito sem distração na busca de brahman e abstendo-se de mulheres em ato, palavra ou pensamento, inclusive tua própria esposa, salvo nos dias seguintes as regras (uma semana posterior a menstruação).
I.14. Ter compaixão é contemplar ao próximo em ato, palavra ou pensamento, como se fosse você mesmo: assim se expressam os que sabem.
I.15. Comportar-se sempre da mesma forma com respeito a qualquer pessoa, filho, amigo, esposa, inimigo, é equanimidade.
I.16. A oitava abstenção (força de espírito) é não ceder a debilidade de encolerizar-se contra os inimigos, mesmo que te provoquem.
I.17-18. Força de espírito é saber que o conhecimento é despertado pela renunciação ao mundo e ao estudo das escrituras sagradas, conjuntamente com a fé no que afirma o veda: "eu sou atman e nada mais".
I.19. Progredirá no caminho do yoga afugentando a gula do alimento que se serve.
I.20-22. Manter limpo o corpo com barro e água: assim se purifica o exterior.
I.21. Mas não se deve esquecer a pureza de espírito que consiste em saber que se é puro no fundo de si mesmo.
I.22. Pois, o atman é puro, a diferença do corpo que é impuro: quem esquece, mesmo lavando seu corpo, perderá tudo, como o insensato que, deixando o ouro, colhe um punhado de terra.
I.23-24. O yogue que se sacia com a ambrosia de conhecimento traz o abandono ao mundo e não tem nenhum dever a cumprir.
I.24. Se imagina tê-lo não teria direito a ser chamado de sábio.
I.25. Conhecer atman é compreender que não existe nada que valia a pena fazer no mundo; assim pois, por meio das abstenções, chega a compreender o atman como idêntico ao imutável brahman.

CAPÍTULO 2: NIYAMA

II.1. Eis agora as observâncias (niyamas): auto-disciplina, contentamento, crer no real, saber dar, devoção ou submissão ao absoluto, estudo de si mesmo, humildade, abandono ou repetição de um mantra; vou explicar-lhe.


II.2. A Auto-disciplina, dizem os sábios, é jejuar nos tempos prescritos a fim de modificar-se. Mas mais profundo é a ascesse do espírito quando se buscam "os porquês e os como" da transmigração e o método para librerar-se dela.


II.3-5. É, sem dúvida, um bem estar contente que se ganha dia a dia, ao azar da vida; mas muito melhor é o conhecimento que se goza pelo renunciamento, até conhecer Brahman.


II.6. Pela escritura e tradição se está seguro de que o mundo existe: isso é o que o sábio chama de crença no real.


II.7. Quanto ao saber dar, é o feito de distribuir aos sábios versados na escritura, o que ganhou justamente pelo que recebeu, por sorte, sem tê-lo procurado.


II.8. Quando o coração se liberou do desejo sensual e das paixões, quando fala sem mentir e trabalha sem violência, pode dizer que pratica realmente a devoção.


II.9. Quanto ao estudo de si-mesmo, é crer na realidade do mundo (sat), no conhecimento infinito (cit), na benção perpétua (ananda) e na permanência de brahman.


II.10. A humildade é envergonhar-se de toda a ação que o veda ou as regras usuais julguem negativa e por debilidade de caráter.


II.11. O abandono é crer sem restrição, nem dúvida alguma, no que ensina a escritura e ater-se a ela, aconteça o que vier a acontecer, mesmo quando o guru tente fazer outra coisa.


II.12. A repetição constante de um mantra (japa) está prescrita pelo veda, os rituais, os puranas, os dharma shastras e as epopéias.


II.13-14. É possível fazer japa de duas maneiras: pronunciando ou em silêncio: pronunciado pode ser em voz alta ou baixa; em silêncio pode ser murmurando ou estritamente mental.


II.15. Evidentemente com japa em voz alta se obtém os benefícios prometidos pelas escrituras, mas o japa murmurado é mais poderosos ainda.


II.16. Quanto ao japa mental, considera-se mil vezes mais eficaz, pois os mantras não dão os frutos esperados caso, por desgraça, forem escutados por outra pessoa; por isso, é preciso fazer japa mentalmente.



CAPÍTULO 3: ASANAS

III.1. Escuta agora como manter as oito posições: svastika, vajra, padma, vira, badhra, siddha, mayura e sukha.

III.2. Manter-se bem ereto com a cabeça erguida e cruzar de forma adequada as pernas para colocar os pés no espaço dos joelhos dobrados, isso é svastikasana.

III.3. Sentar-se diretamente sobre os tornozelos, é vajrasana.

III.4-5. Colocar os dois pés sobre os músculos da coxa, com as plantas para cima, pegando o dedão do pé esquerdo com a mão direita e o dedão do pé direito com a mão esquerda, é padmasana, aquela que vence todas as doenças.

III.6. Sentar-se com o corpo erguido e dobrar a perna esquerda para que o pé toque a coxa, isso é virasana.

III.7. Dobrar as pernas sem cruzar-las e colocar os calcanhares contra o períneo com as mãos sujeitando os dois pés, se denomina badhrasana.

III.8. Modificar a posição (anterior) dos dois pés para cruzar-los contra o períneo, se denomina siddhasana.

III.9-10. Colocar as palmas das mãos no solo, com os cotovelos dobrados a altura do umbigo e levantar o corpo horizontalmente com a cabeça reta e o corpo tenso como um bastão, se denomina mayurasana.

III.11. Quanto aos débeis que adotem qualquer postura fácil, essa será para eles sukhasana.



CAPÍTULO 4: FISIOLOGIA SUTIL - CHAKRAS

IV.1. A medida do corpo é de 86 dedos; em seu centro arde um grande fogo, tão brilhante como ouro fundido.

IV.2. À 2 dedos do ânus, justamente encima do sexo, está um triângulo (muladharachakra); assim explicam os que sabem.

IV.3-5. Quanto ao nó do umbigo (kanda), este se encontra no meio do corpo a 9 dedos do muladhara; seu diâmetro é de 4 dedos e parece a um ovo de galinha, uma baínha o envolve e o umbigo propriamente dito, se vê em seu centro.

IV.6. No nó do umbigo está situado sushumna e 72 mil nadis resplandecem ao seu redor, oh! Samkriti!; somente 14 são importantes.

IV.7-8. Sushumna, ida, pingala, saraswati, pusha, varuna, hastijihva, yashasvini, alambusa, kuhu, vishvadara, payasvini, shankhini e gamdhara.

IV. 9. Mas 3 se destacam sobre todas: sushumna, ida e pingala.

IV.10. A mais importante de todas é sushumna, que os adeptos do yoga chamam de brahma-nadi.

IV.11-12(a). 2 dedos mais abaixo do umbigo está alojada kundalini.

IV.12(b). Está formada por: terra, água, ar, fogo, éter, pensamento (manas), personalidade (ahamkara) e inteligência (buddhi).

IV.13. Ela é quem governa a ação dos 10 alentos vitais (prana) e a assimilação dos alimentos ao redor do nó do umbigo; enroscada sobre si mesma. Possui a boca colocada sobre o agulheiro de brahman.

IV.14. A sua esquerda está ida; e a sua direita, pingala.

IV.15-17. Ao lado de sushumna se encontra kuhu e saraswati; gamdhara e hastijihva, percorrem paralelamente pela frente e por trás a ida, envolvidas por, varuna, pusha e yahasvini; shankini envolve a gamdhara. Estendida do ânus até o umbigo, vemos por último, a alambusa.

IV.18-19. Paralela a sushumna, de cor da lua cheia, está kuhu; ida e pingala chegam até ao nariz na altura das fossas nasais; yahasvini chega até o dedão do pé esquerdo; pusha vai até o olho esquerdo, paralela a pingala.

IV.20-22. Payasvini alcança a orelha direita e saraswati, a língua; hastijihva vai até o dedão do pé direito; finalmente, gamdhara chega ao olho direito, enquanto vishvadara fica no nó do umbigo.

IV.23. Existem 10 alentos (ares) vitais que os yogues assim, denominam: prana, apana, vyana, samana, udana, naga, kurma, krikara, devadatta e dhananjaya.

IV. 24-25. Destes 10, 5 são importantes: prana, apana, vyana, udana e samana; mas, por sua vez, destes 5, 2 se destacam: prana e apana; aos que professam culto, os grandes yogues, entretanto, vêem o prana como o principal.

IV.26. O prana é onipresente; na garganta, no nariz, no umbigo e no coração reside permanentemente.

IV.27. O apana, encontra-se no ânus, músculos da coxa, joelhos e geralmente, na parte inferior do corpo até o umbigo.

IV.28. O vyana está na cabeça, orelhas, os olhos, o pescoço e geralmente até a altura dos ombros.

IV.29. Udana está nos membros e Samana em todo o corpo; os outros 5 alentos vitais estáo na pele, ossos e a carne.

IV.30-32. A função do prana é regular a respiração e a tosse; a do apana as excreções, vyana produz os sons; samana reúne e udana faz levantar-se.

IV.33-34. Naga faz arrotar; dhananjaya enche o ventre; kurma permite fechar os olhos (movimentos de pálpebras); krikara produz a fome e devadatta produz o sono, oh! Samkriti!

IV. 35-38. Os deuses reinam sobre os nadis: o deus de sushumna é shiva; vishnu é o deus de ida e brahma o de pingala; de viraj a saraswati, de pushan a pusha e de vayu e hastijihva é varuna, a yahasvini ao sol; varuna também tem o custódio de alambusa e o deus da fome kuhu; a lua reina sobre os nadis, gamdhara e shankhini; prajapati reina sobre prayasvini e soma sobre vishvadara.

IV.39-42. Em ida se move a lua e o sol em pingala; por isso, quando prana de pingala entra em ida, se diz que se orienta ao norte; ao sul quando, ao contrário, o alento vai de ida a pingala. A lua e o sol se unem no interior do corpo quando o alento reside lá onde se encontram os dois nadis, ida e pingala.

IV.43-45. É o equinócio de primavera quando o alento está em muladhara e é o equinócio de outono quando o alento está na cabeça. O prana, como o sol, recorre os signos do zoodíaco, cada vez que se inspira, retém e finalmente expira o alento.

IV.46-47. Por último, um eclipse de lua se produz quando o alento chega a sede de kundalini seguindo pelo conduto de ida; e quando segue pelo de pingala para chegar a kundalini é um eclipse do sol.

IV.48-49. O monte meru está na cabeça e kedara (monte do Himalaya) está na frente; há de saber que entre os dois olhos, próximo do nariz, está benarés; kurukshetra (campo de batalha no Bhagavad Gita) está no peito; no coração está a confluência dos rios sagrados, ganges, yamuna e saraswati; o kamalaya, por fim, se situa na base da coluna vertebral.

IV.50. Preferir os tirthas (lugares de oblação) reais aos que ocultam o corpo, é preferir lantejolas vulgares a diamantes depositados na mão.

IV.51. Teus pecados serão apagados, ainda que faças amor com tua mulher, ou inclusive com a própria filha, se praticas as peregrinações em teu corpo, de um tirtha a outro.

IV.52. Os verdadeiros yogues que professam culto ao seu atman não precisam tirthas de água, nem deuses de madeira ou barro.

IV.53. Os tirthas do corpo ultrapassam infinitamente aos do mundo e, o tirtha da alma é o maior: os demais não são nada junto a ele.

IV.54. O espírito, se estiver manchado, não pode ser purificado nos tirthas em que se banha.

IV.55. É como um jarro que contendo alcool não será limpo pela água, mesmo que lavado mais de cem vezes.

IV.56. Entretanto, a água do conhecimento dado pelos mestres de yoga purificará o espírito manchado, pois é de um verdadeiro tirtha.

IV.57. Shiva habita em teu corpo: serias néscio adora-lo em imagens de pedra ou de madeira, com cerimonias, devoções, votos ou peregrinações.

IV.58. O verdadeiro yogue olha para si mesmo, pois sabe bem que as imagens são entalhadas para ajudar os ignorantes a aproximar-se ao grande mistério.

IV.59. O único vidente verdadeiro é o que vê o brahman real, único e sem segundo, como idêntico a seu atman.

IV.60-63. E depois, por renunciamento, compreenderás: eu sou atman; então, verás que o atman habita no íntimo de todos os seres; e a visão do onipotente, do supremo brahman imperecível, te libertará de todas as dores.



CAPÍTULO 5: PURIFICAÇÃO DOS NADIS

V.1-2. Uma vez ajustado tua atitude ao que ensinam as escrituras sagradas, tendo purificado todo o excesso de sensualidade e aprendido o que é yoga, com o espírito sereno e verdadeiro, poderás iniciar a prática.

V.3-6. Afirma-te no Atman, escuta bem o que ensinam os mestres, instala-te em um ashram situado em um lugar agradável no alto de uma colina,as margens de um rio ou em um bosque, não longe de um bosquesinho de bilva (árvore sagrada) e exercita-te nas posturas, cuidando em manter o corpo ereto, imóvel e com a boca fechada. Fixando os olhos na ponta do nariz, verás nela, o disco de uma lua, destilando gota a gota a ambrosia.

V.7-9. Introduzindo o ar, inspirando por ida até o ventre, meditando sobre o fogo que arde no meio do corpo, perceberás em ti o som (nada) perpétuo; então, expulsarás o ar pelo canal pingala.

V.10. Logo farás o mesmo, substituindo ida por pingala; pratica assim, ao menos três vezes ao dia e seis tandas cada vez.

V.11. Assim, purificarás teus nadis; teu corpo se tornará luminoso, resplandescente, a causa do fogo interior e ouvirás claramente o som místico.

V.12. Terás que purificar então, o próprio atman.

V.13. Em efeito, ainda que eternamente puro, luminoso e feito de beatitude, teu atman está como obscuro, manchado pela sujeira da ignorância.

V.14. Graças ao conhecimento verdadeiro, poderás eliminar o fardo e devolver sua pureza.



CAPÍTULO 6: PRANAYAMA

VI.1-6. Eis aqui o controle do alento.

VI.2. É necessário entender que os três tempos que compassam sua respiração, não é outra coisa senão, os fonemas que constituem o pranava (AUM).

VI.3. Quando fazes descer o ar até teu ventre por ida, medita na letra A, durante pelo menos desesseis medidas.

VI.4. Quando reteres o ar em ti, medita na letra U, durante pelo menos, desesseis medidas, no tempo que fazes ressoar o OM.

VI.5. E quando expulsar o ar pelo canal pingala, medita na letra M, procurando exalar em trinta e duas medidas.

VI.6. Esse é o verdadeiro pranayama.

VI.7-10. Descenda novamente o ar pelo canal pingala, meditando na letra A, durante desesseis medidas. Retém em seguida o ar em ti, meditando na letra U e esforçando em reter o ar durante sessenta e quatro medidas repetindo o pranava. E, para terminar, expulsa o ar seguindo o canal ida, meditando na letra M, durante pelo menos, desesseis medidas.

VI.11. Se praticares esse controle durante seis meses, serás um mestre; ao término de um ano, verás a brahman; por isso, deves esforçar-se sem cessar.

VI.12-14. Inspirar o ar é puraka; retê-lo como se enche panela, é o que se chama de kumbhaka; a expiração se chama rechaka. O controle faz transpirar; é o efeito menos interessante; com mais prática, faz tremer; os que melhor executam adquirem o poder de levitar; quanto melhores forem, mais se elevaram.

VI.15-17. Por meio do controle certo será a purificação a fundo de teu espírito; então, tua glória se distingue rodeando teu corpo de luz. O espírito e o alento se unem e se estabelecem no atman; é quando, impulsionado pelo controle se torna possível a elevação do corpo do adepto.

VI.18. Pelo saber adquirido consegue a liberação do samsara (cadeia de renascimentos); se pode então, abandonar puraka e rechaka, limitando-se apenas a kumbhaka; todos os pecados se apagam e se obtém o conhecimento mais elevado.

VI.19. Através do pranayama, o espírito se torna claro e sutil, os cabelos grisalhos recuperam a cor, nada existe que não se possa conquistar. Por isso, se deve praticar uma e outra vez, o controle do alento.

VI.20-24. Se controlares o alento inspirando profundamente o ar, aos primeiros raios do sol e ao crepúsculo, antes que amanheça, ao meio-dia, se preferires, retendo teu alento na ponta do nariz, no umbigo ou nos dedos de teus pés, conseguirás viver cem anos. Pois o alento estará bem dominado se retendo-o na ponta do nariz; retendo no umbigo, a doença não terá pressa em chegar a ti e se mantiveres nos dedos dos pés, teu corpo se tornará brilhante.

VI.25-30. Beba o ar inalando-o pela boca com a ajuda da língua: não terás mais sede ou fome e não conhecerás jamais a fadiga. Se manteres o alento na raiz da língua, poderás beber a ambrosia e conhecerás a verdadeira felicidade. Inalando por Ida e conservando o alento entre as sobrancelhas, beberás o néctar e manterás sempre teu corpo com boa saúde. Ajudando-o com os dois nadis (ida e pingala) e conduzindo o ar ao umbigo, serás preservado de todo o mal. E se durante um mês inteiro beberes o néctar gota a gota, inalando o ar três vezes ao dia e conservando-o conforme as regras em um ponto escolhido do teu corpo, nenhum mal procedente dos ventos ou da bile poderá jamais ferir-te.

VI.31. As doenças dos olhos são curadas pelo alento na frente, assim como, as ds ouvidos pelo alento retido nos ouvidos e as enxaquecas pelo alento retido no fundo da cabeça.

VI.32-35. Assim, na postura chamada svastikasana, tendo dominado bem o espírito, fazendo ascender suavemente apana e repetindo o pranava, o adepto deve com suas mãos, isolar-se do mundo exterior; seus polegares fecharão os ouvidos, seus indicadores fecharão os olhos e os outros dedos suas fossas nasais; manterás assim o apana no interior de sua cabeça até conhecer a beatitude, pois, o alento alcançará então, a porta de brahamarandhra.

VI. 36-51. Nesse momento o som (nada, sob forma da sílaba OM) se manifestará imediatamente como se soprasse um caracol; será como um trovão e quando o alento chegar por fim, ao alto da cabeça ouvirás o frescor de uma castata de montanha e teu atman complascendo-se neste ruído, se mostrará em verdade a ti.
CAPÍTULO 7 - PRATYAHARA
VII.1-4. Escuta agora o que se chama a retirada dos sentidos; consiste em obrigar a estes, de forma expressa a voltar-se para si mesmo, enquanto sua verdadeira natureza dispersa-se no exterior. Por outro lado, a verdadeira retirada dos sentidos é ver o brahman em todas as coisas, como ensinavam os rishis. Faça o que fizer, bem ou mal, faça até a sua morte percebendo nele, o brahman; issso é a retirada dos sentidos.
VII.5-9. Celebrar o cerimonial dos ritos solenes ou domésticos de acordo com as regras do veda e perceber neles, o brahman; isso é a retirada dos sentidos. Podes conduzir também o alento por teu corpo, de uma lugar a outro, dos dentes a garganta ou da garganta ao peito, do peito ao umbigo e do umbigo até o muladhara, onde mora kundalini; até a cintura e as coxas, até os joelhos, panturrilhas e até os dedos dos pés; isso também é a retirada.
VII.10-14. Se atuas assim, se desvanecerão teus pecados e desaparecerão tuas doenças, como ensinam os que sabem...
CAPÍTULO 8 - DHARANA
VIII.1. E agora, dharana, que conhecemos cinco tipos referentes aos cinco elementos com seus homônimos corporais. O espaço no centro do corpo deve manter o espaço exterior e, do mesmo modo, o ar externo deve ser mantido no prana e o fogo no fogo do abdomen; deve ser mantido também as águas nos líquidos do corpo e a terra nas partes terrenas; isso é dharana, oh Samkriti!
VIII.3-4. Pronuncie o mantra YAM-VAM-RAM-LAM na ordem adequada; esso tipo de dharana te liberará do pecado. Dos pés até os joelhos, o corpo pertence a terra; dos joelhos ao ânus, a água; do ânus ao coração, o fogo e o ar, do coração até a testa; a cabeça pertence ao espaço (akasha).
VIII.5-6. Na terra se vê brahman. Vishnu na área aquosa. Maheswara (Shiva) no fogo. Ishvara no ar e Shiva na parte do teu corpo que representa o espaço.
VIII.7-8. Podes também, se preferires, meditar somente em Shiva para libertar-se de todo o mal; o verás em teu atman cheio de sabedoria e beatitude, morando em purusha, princípio único deste mundo.
VIII.9. E com todo o teu espírito olhando fixamente ao não-manifestado, carente de forma e indefinível, comprovarás que o princípio único, sob forma de pranava, não é outro, senão, teu atman.
CAPÍTULO 9 - DHYANA
IX.1-2. Passarás então, a meditação profunda, a que destroí para sempre os laços da transmigração (samsara). Com humildade absoluta, medita-se sobre o senhor brahman-verdade-realidade, o brahman-pura-transcendência. Assim, o verdadeiro yogue, livre das leis da existência, para sempre casto e vivendo todas as coisas, medita sobre ishvara, compreendendo "eu sou ele".
IX.3-5. E pode meditar também sobre ishana, a verdade, o conhecimento não-dual, puro eterno e sem passado, o mesmo que sem presente nem futuro; sutil, incognicível, imperceptível, sem cheiro nem sabor, não mensurável; o único que não é outro senão atman, ser-consciência-beatitude (sat-cit-ananda).
IX.6. Compreendendo "eu sou este brahman", alcançarás a liberação.
CAPÍTULO 10 - SAMADHI
X.1-2. Quando aparece em ti o conhecimento verdadeiro da unidade de teu atman cósmico, é o que se chama samadhi, pois o atman é em verdade idêntico ao brahman onipresente, perpétuo, único e sem segundo.
X.3. Podes compreender então, que suas formas são ilusórias; não é dualidade, nem mundo fenomênico, muito menos transmigração.
X.4. Assim como o espaço dentro da onda não é diferente do espaço que a rodeia, assim também não existe outro atman e somente os ignorantes o chamam de jivatman ou ishvara.
X.5-6. Deves dizer em verdade: "eu não sou nem corpo, nem alento vital, nem sentidos, nem pensamentos, nenhuma outra coisa; pois eu sou o testemunho único; Eu sou Shiva! Eu sou Shiva! Se, eu sou o brahman; sou estrangeiro nesse mundo, não há nada junto à mim. Assim como a espuma e as ondas nascem no oceano e nele se dissolvem, assim também o mundo nasceu de mim e em mim se dissolve.
X. 7-8. Aquele que sabe isso, alcança subitamente a imortalidade convertendo-se em purusha e a consciência universal, onipresente e luminosa, resplandesce em seu coração: assim alcança o brahman.
X.9-11. Se não vê nada mais do que "isso", permanescendo sempre em samadhi, é para sempre o brahman e vê sua alma nele; o mundo se desvanesce então; pois o que fica é só a alegria.
X.12. Calou-se então Dattatreya e Samkriti, já apasiguado, buscou refúgio em sua alma e não conheceu mais a inquietude.
Tal é esta Upanishad.


segunda-feira, 8 de outubro de 2007

YOGA TATTVA UPANISHAD

Doutrina Secreta sobre a Essência do Yoga

Introdução:


O anônimo autor vishnuista deste tratado de 142 versos pretende integrar diferentes formas de Yoga nos fundamentos filosóficos do Advaita Vedanta. A época desse texto deve situar ao redor do século XV d.C.

O Yogatattva é o Upanishad que parece conhecer com mais detalhes as práticas do Yoga: menciona os oito passos (3) e distingue quatro tipos de Yoga (Mantra, Laya, Hatha e Raja) (19). Ressalta a interdependência entre Yoga e a Gnose (conhecimento), expressando no início que o Yoga (técnica) sozinho não basta para promover moksha (liberação), se não dispusermos igualmente de Jñana (sabedoria); os poderes mágicos do yogue aparecem neste texto de forma muito envolventes. Pela primeira vez, um Upanishad proporciona com detalhes precisos e numerosos, os poderes extraordinários obtidos pela prática e meditação. São mencionados os quatro principais asanas (siddha, padma, simha e bhadra) (29) mencionando os obstáculos que encontram os debutantes (preguiça, conversa, etc...) (30). Segue uma exposição sobre pranayama (36) com a definição de matra (unidade de medida para as fases respiratórias) (40) com detalhes importantes sobre a fisiologia mística (a purificação dos nadhis é traduzido por certos sinais externos: leveza do corpo, brilho da pele, aumento da potência digestiva, etc.) (46); kevala kumbhaka, significa, suspensão completa da respiração, também com sintomas fisiológicos, (52). Por meio da kevala kumbhaka, pode-se dominar qualquer coisa nos três mundos. O poder de elevar-se pelo ar e de controlar e dominar qualquer ser (bhucara siddhi), são resultados imediatos obtidos com esta prática yogue. O yogue torna-se formoso e forte como um deus e as mulheres o desejam, mas deve preservar-se e manter castidade: "a conseqüência da retenção do esperma, exala um cheiro agradável e rodeia o corpo todo do yogue" (62). O Pratyahara está definido diferentemente aos Yoga Sutras: "Retirando completamente os órgãos sensoriais dos objetos durante a suspensão da respiração" (68). Uma longa lista de siddhis, poderes secretos, deixa a amostra o meio mágico de onde foi elaborada esta Upanishad; fala-se de clarividência - facultade de ouvir e falar bem, possibilidade de mover-se rapidamente a longas distâncias, de adotar qualquer forma e de tornar-se invisível, faculdade de converter o ferro e outros metais em ouro, untando-os com escrementos" (73). Este último siddhi, mostra claramente a relação real existente entre certa forma de yoga com alquimia.

O Yogattatva Upanishad oferece uma fisiologia mística, mais rica que os Yoga-sutras. As "cinco partes" do corpo correspondem aos cinco elementos cósmicos (terra, água, fogo, ar e éter) e a cada elemento corresponde uma letra mística especial e um dharana particular, governado por um Deus: ao efetuar a meditação que lhe é própria, o yogue se converte em dono de um elemento e obtém o siddhi correspondente. Todos estes siddhis são familiares, tanto nas tradições místico-ascético-hindú, como no folclore concernente aos yogues.

O Samadhi descreve-se como um estado paradoxal onde se encontram o jivatman (a alma individual) e o paramatman (o espírito universal), a partir do momento em que não existe mais diferença entre um e o outro. O yogue pode fazer então o que lhe pareça melhor: se assim desejar, pode ser absorvido por Parabrahman; ou, se quiser conservar seu corpo, pode ficar na terra e ser possuidor de todos os siddhis. Pode também converter-se em Deus, viver rodeado de honras, nos céus e adotar todas as formas desejadas. Ao terminar o Yogattatva, também fornece uma lista de asanas e de mudras (112) dos quais alguns encontram-se no Hathayogapradipika. Também dispõe a posição que consiste e manter-se sobre a cabeça (vajrolimudra) com os pés no ar. Posição com os seguintes efeitos terapêuticos: As rugas e cabelos grisalhos desaparecem em três meses, depois de tal exercício (125). Outros mudras tem como conseqüência, a aquisição de siddhis, bem conhecidos: o poder de voar, o conhecimento de prever e até a imortalidade (também por meio de vajroli mudra). A imortalidade é mencionado em detalhes.

No Yogattatva é revelado uma técnica yogue revalorizada à luz da dialética vedântica: o jivatma e o paramatma são substituidos por purusha e a ishvara. Mais significativo ainda do que esta matiz vedântica, é o acento experimental que caracteriza este Upanishad. O texto conserva o aspecto de um manual técnico, com indicações estritas para o uso dos ascetas. O objetivo buscado por esta disciplina é ali expressado claramente: a obtenção da condição "homem-deus" de uma longevidade ilimitada e de uma liberdade absoluta. Este é o "leimotiv" de todas as variedades barrocas de Yoga, que o tantrismo dará maior amplitude.


Texto:

1. Descreverei agora o Yoga-Tattva (Yoga essência) para o benefício dos yogues, para que se liberem de todos os pecados através de sua recitação e estudo.

2.O Supremo Purusha denominado Vishnu, que é o grande yogue, o grande ser e o grande tapasvin (asceta), é como uma lâmpada no caminho da verdade.

3. O Supremo senhor (Brahma) depois de saudar e apresentar os devidos respeitos ao Senhor do Universo (Vishnu), o suplicou (assim): "Por favor, ensina-me o autêntico Yoga que inclue os oito passos".

4. Hrisikesha (o Senhor dos Sentidos ou Vishnu), assim respondeu: "Escuta com atenção, pois te ensinarei a verdade. Todas as almas se enchem de felicidade e dor por meio do engano de maya.

5-6. Kaivalya, o estado supremo, é o caminho que conduz a liberação, desata o laço de maya, destrói o nascimento, a velhice, a doença e permite vencer a morte. Não existe outro caminho para a salvação. Quem vai e vem ao redor dos Shastras (escrituras sagradas) são enganados por seu conhecimento.

7. Inclusive para os Devas, se torna impossível descrever esse estado, por ser indescritível. Como pode ser iluminado pelos Shastras o que brilha em si mesmo?

8. Somente o que é indivisível e puro, que permanece imóvel muito além de tudo e livre de destruição, se converte no jiva (si mesmo individual), a causa dos resultados de passadas virtudes e pecados.

9. Como pode conquistar o estado de jiva, aquele que possui o estado de paramatman, que permanece eternamente em outro estado diferente de todas as coisas existentes, que é sabedoria e pureza?

10. Uma bolha surge nele, como se fosse água e nesta (bolha) surge ahamkara (sensação de individualidade). Nesta, por sua vez, aparece uma massa (o corpo) composta de cinco (elementos) e limitada pelos dhatus.

11. Tens que saber que para converter-se em jiva, o (paramatman) é associado com felicidade e dor e o paramatman em sua pureza passa a denominar-se agora jiva.

12-13. Se considera que tal jiva seja kevala (solitário), livre dos defeitos da paixão, cólera, medo, engano, cobiça, orgulho, anelos, nascimento, morte, avareza, desvanecimento, vertigem, fome, sede, ambição, vergonha, temor, ardor, pesar e alegria.

14. Agora te ensinarei os meios para destruir (estes) pecados. Realmente, poderá surgir jnana (e ser) capaz de conceder moksha, sem Yoga?

15. De forma parecida, o Yoga se torna incapaz de (assegurar) moksha quando falta jnana. Portanto, o aspirante a liberação deve praticar (seriamente) tanto Yoga, como Jnana.

16. O ciclo de nascimentos e mortes é criado apenas por Jnana e se destrói somente através de Jnana. No princípio somente havia Jnana. Deve-se considerar então, como único meio (de salvação).

17-18a. Por meio de Jnana, se conhece (em essência) a autêntica natureza de kaivalya como o estado supremo, puro, indivisível da natureza de sat-cit-ananda, sem nascimento, existência e morte, sem movimento e jnana.

18b-19. Agora te ensinarei os procedimentos do Yoga: o Yoga se divide em vários ramos: Mantra-Yoga, Laya-Yoga, Hatha-Yoga e Raja-Yoga.

20. Existem quatro estados relacionados a estes (ramos): Arambha, Ghata, Parichaya e Nishpatti.

21. Descreverei a continuação, oh Brahma!. Escute atentamente. Deve-se praticar Mantra-Yoga, com seus matrikas (entoações corretas dos sons) e outros (detalhes) durante um período de doze anos.

22. Assim se obtém gradualmente sabedoria e siddhis (como) anima, etc. As pessoas de pouco desenvolvimento intelectual, que são menos qualificadas para o Yoga, praticam este ramo.


23-24(a). O Laya-Yoga (o segundo ramo) busca a dissolução de citta (o complexo mental) e é descrito de várias maneiras (uma das quais é): deve-se praticar a contemplação no indivisível Senhor, (inclusive) quando caminha, sentado, dormindo ou comendo. Isto se chama Laya-Yoga.

24(b)-25. Agora escuta (a descrição do) Hatha-Yoga. Diz-se que este Yoga possui oito etapas (seguintes): yama (abstenções), niyama (observâncias), asana (postura), pranayama (controle da respiração), pratyahara (subjulgação dos sentidos), dharana (concentração), dhyana (contemplação de Hari na entre sobrancelha) e Samadhi (que é o estado de equanimidade).

26-27. (Mais a diante) se dará um ensinamento em separado de: Maha-mudra, Maha-bandha, Khechari, Jalandhara, Uddyana e Mula-bandha, musicando por longo tempo e de forma continuada o pranava (OM) e ouvindo a exposição das verdades supremas; vajroli, amaroli e sahajoli que formam uma tríade.

28-29(a). Oh! Deus de quatro faces (Brahma)!, o yama (abstenção) mais importante é não provocar dor e entre (as observâncias de) niyama, comer de forma moderada e não outro é o fator principal.

29(b). (As posturas principais são) quatro: siddha, padma, simha e bhadra.

30-31. Durante as primeiras fases da prática aparecem os obstáculos seguintes, oh! Deus de quatro faces! preguiça, conversa ociosa, relacionamento com pesssoas de má indole, aquisição de mantras, etc., entretenimento com metais (alquimia) e com mulheres e fantasias, etc. O homem sábio que se dá conta de sua existência deve abandona-los graças ao desenvolvimento de suas qualidades.

32. (Superados os obstáculos) deve-se adotar a postura de padma (lótus) e praticar pranayama. (Para isso) deve-se construir uma ermita agradável com uma porta pequena com tranca.

33. (As paredes) devem ser isoladas com estercól ou cimento branco. Deve-se limpar cuidadosamente (o interior) de todo o tipo de insetos.

34. Deve-se varrer todos os dias com vassoura, perfumar com bons cheiros e queimar incensos.

35-36(a). O (lugar para) sentar-se não deverá estar nem muito alto e nem muito baixo; sobre uma tecido (deve-se colocar uma) pele de cervo e estender (encima) erva kusa; o homem sábio na postura de padma, mantendo o corpo ereto e as mãos unidas ao peito em sinal de respeito, deve saudar sua divindade pessoal.

36(b)-40. Então, fechando a narina direta com o dedo polegar, deve inspirar devagar através da narina esquerda. Depois de reter a respiração (com os pulmões cheios) quanto possível, deve expirar lentamente através da narina direita. Seguidamente, enche a parte baixa dos pulmões através da narina direita, retém a respiração todo o tempo possível e expira através da narina esquerda. Deve-se inspirar através da narina pelo qual se expira (previamente) e continuar assim de forma ininterrupta. O tempo que demora para dar uma volta no joelho com a palma da mão, nem muito devagar, nem muito rápido; similar (ao tempo necessário para dar) um estalo com os dedos, se chama matra.

41-44. Inspirar o ar através da narina esquerda durante dezesseis matras e retê-lo (dentro) aproximadamente sessenta e quatro matras, para expeli-lo pela narina direta durante trinta e dois matras. Denovo, inspirar pela narina direita (e continuar como antes). Praticar a suspensão da respiração quatro vezes ao dia: ao amanhecer do sol, meio dia, entardecer e a meia noite e (efetua-la em um total diário de) oitenta vezes. Aos três meses de prática ininterrupta, acontece a purificação dos nadis. Quando os nadis estiverem purificados, certos sinais externos aparecerão no corpo do yogue.

44-46(a). (Continuando) procederei a descrição (destes sinais): corpo luminoso, pele brilhante, aumento do fogo digestivo, corpo delgado e junto a isso, ausência de agitação corporal.

46(b)-49. O (praticante) esperto deve abandonar a comida prejudicial para a prática do Yoga. Deve-se abandonar o sal, mostarda, alimentos ágrios, verduras quentes, picantes ou amargas, asafétida e outras plantas similares; fazer retiros com culto ao fogo (agnihotra), evitar as mulheres, os passeios, o banho ao amanhecer, o enfraeucimento do corpo através de jejuns e outras atividades similares. Durante as primeiras fases da prática, se recomenda tomar leite e ghee (manteiga clarificada), também diz-se que a comida que inclua trigo, legumes verdes e arroz vermelho favorece o progresso. Então, (seguindo estas recomendações), poderá se reter a respiração todo o tempo que se deseje.

50-53. Desta forma. retendo com facilidade a respiração, tanto quanto se possa, se conquista kevala kumbhaka (ausência da respiração, sem inspiração nem expiração). Quando se conquista kevala kumbhaka precedendo da expiração e inspiração nada mais resta para ser alcançado nos três mundos. No começo (da prática), brota suor (e) o (praticante) deve limpar-se. Mais a diante, o praticante experimenta um aumento da transpiração quando retém a respiração, finalmente com a prática intensa de dharana, o suor vem copiosamente.

54. Igual aos saltos de uma rã, assim se move o yogue quando senta na postura de lótus (padma). Com a prática (mais avançada), pode elevar-se do solo.

55. (O yogue) sentado na postura padma, levita. Advém um poder (maravilhoso) que lhe permite realizar feitos extraordinários.

56. (O yogue) não deve divulgar as ações (levadas a cabo com) seus grandes poderes. (Agora) nenhuma dor pequena ou grande, afeta o yogue.

57. As secreções e o sono diminuem; as lágrimas, o catarro ocular, o fluxo salivar, o suor e o mau cheiro na boca desaparecem.

58-60. Com uma prática mais avançada ainda, adquiri-se grande força com a qual se conquista bhuchara siddhi, (este poder) lhe permite dominar todas as criaturas sobre a Terra; tigres, sarabhas (animal com oito pernas), elefantes, touros ou leões caem mortos (instantaneamente) ao ser tocados por um yogue. (Este) se torna tão belo como o Deus do amor.

61-62. Todas as mulheres desejarão ter relações sexuais com ele. (Mas) se aceita, perderá sua virilidade; desta forma, renunciando estas relações , deve continuar com sua prática com grande dedicação. Com a preservação do semen, o corpo do yogue se impregna de bons cheiros.

63. Então, sentado em um lugar solitário, deve repetir o pranava (OM) como três pluta-matras (entoação prolongada) para destruir seus anteriores pecados.

64. O mantra, pranava (OM), destrói todos os obstáculos e todos os pecados. Assim, com esta prática, se conquista o estado de arambha (primeiro estado).

65-66. Depois, segue o gatha (segundo estado), que se adquire por meio da prática constante da cessação da respiração. Quando se der a união perfeita sem divisão entre prana e apana, manas e buddhi, jivatma e paramatma, o estado de gatha se instala. Descreverei (mais a diante), suas características.

67. Agora podemos (reduzir) a prática somente a uma quarta parte do período prescrito para a etapa anterior. Pode-se praticar durante um yama (três horas diárias), manha e tarde.

68-69(a). Será praticado kevala kumbhaka uma vez ao dia. Pratyahara é a inibição completa dos órgãos dos sentidos com respeito aos seus objetos, durante a cessação da respiração.

69(b). Qualquer coisa que (o yogue) veja com seus olhos, deve considera-la como atman.
70. Qualquer coisa que (o yogue) ouça com seus ouvidos, deve considera-la como atman. Qualquer coisa que (o yogue) cheire com seu nariz, deve considerar como atman.

71. Qualquer coisa que (o yogue) saboreie com sua língua, deve considerar como atman. Qualquer coisa que (o yogue) toque com sua pele, deve considerar como o atman.

72. Sem desânimo e com total dedicação, o yogue deve inibir desta forma, os órgãos dos sentidos diariamente durante um período de um yama.

73-74. Então, (finalmente) o yogue adquire distintos poderes especiais, como clarividência, clariaudiência, habilidade de movimentar-se a grandes distâncias em um instante, grand epoder de oratória, adoção de qualquer forma, habilidade para tornar-se invisível e poder para transformar ferro (e outros metais) em ouro, quando o yogue os junta com seus próprios excrementos.

75-76. Esse yogue que pratica constantemente, adquire o poder de levitar. Agora, o yogue (suficientemente) sábio deve raciocinar que estes poderes são (em realidade) grandes obstáculos para alcançar a conquista última do yoga e, em conseqüência, nunca deve deleitar-se com eles. O melhor dos yogues não deve em absoluto, exercitar seus poderes diante de qualquer pessoa.
77. (O yogue) deve viver no mundo como um néscio, como um surdo ou um idiota, com o objetivo que seus poderes não se tornem públicos.

78-79. (Entretanto), seus discípulos lhe pedirão que demonstre seus poderes para satisfazer seus próprios desejos. Quem se comprometer ativamente com suas obrigações (mundanas), (terminará) abandonando a prática (do yoga); então, deverá praticar yoga dia e noite sem esquecer das palavras de seu guru. Desta forma, passará o estado de gatha aquele que permanecer constantemente comprometido na prática do Yoga.

80. Deve-se praticar Yoga com grande dedicação, pois não se ganha nada com companhias inadequadas.

81-83(a). Desta forma, com a prática constante alcança-se o estado paricharya (o terceiro estado). Através da prática intensa, vayu (respiração) junto com agni (kundalini), com a ajuda do pensamento (foco), perfura e penetra o sushumna. Quando citta entra em sushumnprana alcança o lugar (mais) elevado (provavelmente na cabeça).

83(b). Existem cinco elementos: prithvi, apas, agni, vayu e akasha.

84-87(a). No corpo (composto) por cinco elementos, existem cinco dharanas (lugares para a concentração, meditação ou visualização contemplativa). Dos tornozelos até os joelhos, diz-se que é a região de prithvi (terra); (a figura iconográfica deste elemento) é de forma quadrada, de cor amarela e possui (como mantra) a sílaba "la". Levando a respiração, ao mesmo tempo que a sílaba "la", ao longo da região do solo (prithvi, é dizer, dos tronozelos aos joelhos) e contemplando a Brahma (que possui) quatro rostos e quatro bocas e é de cor amarela, (o yogue) deve praticar dharana nesse lugar durante duas horas. Assim ganha o poder de dominar o solo. A morte não é problema quando se obtém o domínio sobre este elemento, terra.
87(b)-90. A região de apas (água) se estende dos joelhos ao ânus. Apas possui forma de meia-lua, de cor branca e sílaba mística "va" como bija (semente). Levando a respiração com a sílaba "va" ao longo da região de apas, deve-se meditar no Deus Narayana que está coroado, possui quatro braços, é de cor cristal puro, veste roupa de cor laranja e é indestrutível; praticando dharana em tudo isso por um período de duas horas, se conquista a liberação de todos os pecados. Então, desaparece o medo da morte relacionada com a água.

91. Do ânus ao coração, diz-se que é a região de agni (fogo). Agni possui forma triângular, de cor vermelha e sílaba "ra", como semente (bija).

92-93(a). Elevando a resplandescente respiração ao longo da região do fogo por meio da sílaba "ra", deve-se meditar em Rudra que possui três olhos, concede todos os desejos, é de cor do sol do meio-dia, está recoberta com sagradas cinzas e possui uma aparência agradável.

93(b)-94(a). Praticando dharana desta forma durante um período de duas horas, (o yogue), torna-se sem combustão, mesmo que o corpo inteiro se transforme em uma chama.

94(b)-96. Do coração a região entre-sobrancelhas, se estende a região de vayu (ar). Vayu possui forma hexagonal, de cor negra e resplandece com a sílaba "ya". Levando a respiração ao longo da região de vayu, deve-se meditar em Ishvara, o Onisciente, o possuidor de mil rostos; praticando dharana assim, durante duas horas, vayu entra em akasha.

97-98(a). (Consequentemente), o yogue não encontra sua morte por meio do vayu. Do centro das sobrancelhas para cima da cabeça, diz-se que é a região de akasha (o éter, espaço cósmico), de forma arredondada, cor humectante e brilhando com a sílaba "ha".

98(b)-101(a). Elevando a respiração ao longo da região de akasha, deve-se visualizar a Sadashiva com os seguintes atributos: doador de felicidade, com a forma de bindu, como o grande deva, tendo a forma de akasha, brilhante como o cristal puro, levando a meia-lua crescente em sua cabeça, dez mãos e três olhos, com um semblante agradável, armado com todas as armas, adorado com todos os ornamentos, tendo a (deusa) Uma como metade de seu corpo, preparado para conceder favores e sendo a causa de todas as causas.

101(b). Praticando dharana na região de akasha, realmente se obtém o poder de atravessar os ares.

102. Onde quer que esteja, (o yogue) desfruta a beatitude suprema. O "expert" em Yoga deve praticar estes cinco dharanas.

103. Então, seu corpo se tornará forte e não conhecerá a morte. Este poderoso homem, não morre nem sequer com o dilúvio de Brahma.

104-105. Agora há de praticar dharana durante um período de seis ghátikas (duas horas e vinte e quatro minutos), contendo a respiração na (região de) akasha e visualizando a deidade (pessoal) que concede seus desejos. Diz-se que isto é saguna dhyana, capaz de conceder (os siddhis) anima, etc. Quem compenetrar em nirguna dhyana conquistará o estado de samadhi.

106. Em torno de doze dias, se conquistará o estado de samadhi. Contendo sua respiração, o sábio se converterá em uma pessoa liberada.

107. Samadhi é esse estado em que o Jivatman (ego inferior) e o Paramatman (ego superior) não se distingue (são o mesmo estado). Se (no estado de Samadhi) deseja sair de seu corpo, pode faze-lo assim.

108-109(a). (O yogue) se dissolverá em Parabrahman sem necessidade de utkranti (sair ou subir). Mas se não assim deseja e está satisfeito com seu corpo, viverá em todos os mundos possuindo siddhis, como anima, etc.
109(b)-110. As vezes, se converte em um deva e vive adorado em svarga; outras vezes, se converte em homem ou um yaksha, se desejar. Também pode tomar a forma de um leão, tigre, elefante ou cavalo, deliberadamente.

111. O yogue convertido em deus pode viver tanto quanto queira. Somente existe diferença na forma de proceder, mas o resultado é o mesmo.

112-115(a). Colocar o calcanhar esquerdo contra o ânus, estender a perna direita e mante-la contraída com ambas as mãos. Colocar o queixo no peito e inspirar o ar devagar. Conter a respiração tanto quanto consiga e na continuação expirar devagar. Depois de praticar com o pé esquerdo, praticar com o pé direito. Isto é Maha-bandha e deve ser praticado em ambos os lados.

115(b)-117(a). O yogue que senta em maha-bandha e tenha inspirado o ar com a mente concentrada, deve deter o fluxo (interno) de vayu por meio do mudra da garganta (jalandhara) e encher completamente ambos os lados (da garganta). Isto se chama Maha-vedha e é praticado habitualmente pelos siddhas.

117(b)-118(a). O mudra da língua voltada para a cavidade interior da garganta e os olhos concentrados em um ponto entre as sobrancelhas, se chama khechari.

118(b)-119(a). Contrair os músculos do pescoço e colocar a cabeça firmemente contra o peito, se chama jalandhara (bandha); é (como) o leão diante de um elefante moribundo.

119(b)-120(a). Os yogues chamam uddhyana ao bandha no qual o prana volta através do sushumna.

120(b)-121(a). Pressionar o calcanhar firmemente contra o ânus, contrair o esfincter anal e levar apana para cima, se denomina yoni-bandha.

121(b)-122(a). Através de mula-bandha, se unem prana e apana, nada e bindu e se obtém o objetivo do Yoga; não existe nenhuma dúvida sobre isso.

122(b)-124(a). Quem pratica as técnicas de inversão (corporal), destrói todas as doenças (e) aumenta o fogo gástrico. Por tanto, o praticante deve dispor de grande quantidade de provisões, (pois) se come pouco, o fogo (interno) consumirá seu corpo em pouco tempo.

124(b)-125. O primeiro dia, se deve permanecer sobre a cabeça com os pés elevados somente por um momento. Deverá aumentar este período gradualmente todos os dias. As rugas e o cabelo grisalho desaparecem em três meses.

126. Somente praticando um yama (24 minutos) cada dia se conquistará o tempo. Quem pratica vajroli se converterá em um yogue e conquistará todos os siddhis.
127-128. Quem conquista os siddhis do Yoga, certamente conhecerá o passado e o futuro e poderá movimentar-se pelos ares. Quem bebe dessa forma, o néctar se tornará pouco a pouco, imortal. Se deve praticar vajroli diariamente. Então, (esta prática aperfeiçoada) se chama amaroli.

129-131(a). Assim se obtém o (estado de) Raja-Yoga e certamente já não haverá mais obstáculos. Quando o yogue completa sua ação com o Raja-Yoga, então obtém realmente a discriminação (entre o real e o irreal) e a indiferença diante dos objetos. Vishnu, o yogue das grande austeridades e o purusha mais excelso, se observa como uma lâmpada (iluminando) o caminho da verdade.
131(b)-134(a). O peito que amamentou primeiro (em um nascimento anterior), aperta agora (apaixonadamente) e proporciona prazer. Se desfruta do mesmo órgão genital que serviu para o nascimento. Quem foi uma vez mãe, será agora esposa e quem é agora esposa (o será) certamente mãe. Quem é agora pai será denovo filho e quem é agora filho será denovo pai. Assim são os egos que experimentam este mundo vagando de útero do nascimento a morte, como o cubículo da roda de um moinho.

134(b) - 136(a). Existem três mundos, três vedas, três sandhyas (manhã, meio dia e meia noite), três svaras (sons), três agnis e (três) gunas e todos eles se encontram nas três letras (do mantra sagrado OM). Quem entende isso, se torna indestruível; para ele, todos estes mundos permanecem unidos (como um único solo). Esta é a Verdade, o estado supremo.

136(b)-138(a). Como o perfume da flor, como o ghee no leite, como o óleo na semente de sésamo e como o ouro no quartzo, asim é o lótus no coração. Sua face está para baixo e seu talo para cima. Seu bindu está para baixo e em seu centro está manas.


138(b)-139(a). Com a letra "A" o lótus se desprega; com a letra "U" se abre e com a letra "M" se obtém nada; o Ardha-matra é o silêncio.


139(b)-140(a). A pessoa comprometida na (prática do) Yoga obtém o estado supremo que é puro como o cristal, não possui partes e destrói todos os pecados.


140(b)-141. Igual a uma tartaruga que esconde suas patas e cabeça dentro de si mesma, assim entra e sai o alento inspirando e expirando, através das nove aberturas do corpo.


142. (O yogue liberado) contempla atman depois de fechar as nove aberturas, como uma chama imóvel dentro de um frasco hermético, quieta no coração graças ao Yoga, completamente serena.


Assim termina este Upanishad.


Sri Swamiji Shankara Saraswati Maharaj - Maharishi Mahamandaleswar Param Jagad Sat Guru