Doutrina Secreta sobre a Essência do Yoga
Introdução:
O Yogattatva Upanishad oferece uma fisiologia mística, mais rica que os Yoga-sutras. As "cinco partes" do corpo correspondem aos cinco elementos cósmicos (terra, água, fogo, ar e éter) e a cada elemento corresponde uma letra mística especial e um dharana particular, governado por um Deus: ao efetuar a meditação que lhe é própria, o yogue se converte em dono de um elemento e obtém o siddhi correspondente. Todos estes siddhis são familiares, tanto nas tradições místico-ascético-hindú, como no folclore concernente aos yogues.
O Samadhi descreve-se como um estado paradoxal onde se encontram o jivatman (a alma individual) e o paramatman (o espírito universal), a partir do momento em que não existe mais diferença entre um e o outro. O yogue pode fazer então o que lhe pareça melhor: se assim desejar, pode ser absorvido por Parabrahman; ou, se quiser conservar seu corpo, pode ficar na terra e ser possuidor de todos os siddhis. Pode também converter-se em Deus, viver rodeado de honras, nos céus e adotar todas as formas desejadas. Ao terminar o Yogattatva, também fornece uma lista de asanas e de mudras (112) dos quais alguns encontram-se no Hathayogapradipika. Também dispõe a posição que consiste e manter-se sobre a cabeça (vajrolimudra) com os pés no ar. Posição com os seguintes efeitos terapêuticos: As rugas e cabelos grisalhos desaparecem em três meses, depois de tal exercício (125). Outros mudras tem como conseqüência, a aquisição de siddhis, bem conhecidos: o poder de voar, o conhecimento de prever e até a imortalidade (também por meio de vajroli mudra). A imortalidade é mencionado em detalhes.
No Yogattatva é revelado uma técnica yogue revalorizada à luz da dialética vedântica: o jivatma e o paramatma são substituidos por purusha e a ishvara. Mais significativo ainda do que esta matiz vedântica, é o acento experimental que caracteriza este Upanishad. O texto conserva o aspecto de um manual técnico, com indicações estritas para o uso dos ascetas. O objetivo buscado por esta disciplina é ali expressado claramente: a obtenção da condição "homem-deus" de uma longevidade ilimitada e de uma liberdade absoluta. Este é o "leimotiv" de todas as variedades barrocas de Yoga, que o tantrismo dará maior amplitude.
Texto:
1. Descreverei agora o Yoga-Tattva (Yoga essência) para o benefício dos yogues, para que se liberem de todos os pecados através de sua recitação e estudo.
2.O Supremo Purusha denominado Vishnu, que é o grande yogue, o grande ser e o grande tapasvin (asceta), é como uma lâmpada no caminho da verdade.
3. O Supremo senhor (Brahma) depois de saudar e apresentar os devidos respeitos ao Senhor do Universo (Vishnu), o suplicou (assim): "Por favor, ensina-me o autêntico Yoga que inclue os oito passos".
4. Hrisikesha (o Senhor dos Sentidos ou Vishnu), assim respondeu: "Escuta com atenção, pois te ensinarei a verdade. Todas as almas se enchem de felicidade e dor por meio do engano de maya.
5-6. Kaivalya, o estado supremo, é o caminho que conduz a liberação, desata o laço de maya, destrói o nascimento, a velhice, a doença e permite vencer a morte. Não existe outro caminho para a salvação. Quem vai e vem ao redor dos Shastras (escrituras sagradas) são enganados por seu conhecimento.
7. Inclusive para os Devas, se torna impossível descrever esse estado, por ser indescritível. Como pode ser iluminado pelos Shastras o que brilha em si mesmo?
8. Somente o que é indivisível e puro, que permanece imóvel muito além de tudo e livre de destruição, se converte no jiva (si mesmo individual), a causa dos resultados de passadas virtudes e pecados.
9. Como pode conquistar o estado de jiva, aquele que possui o estado de paramatman, que permanece eternamente em outro estado diferente de todas as coisas existentes, que é sabedoria e pureza?
10. Uma bolha surge nele, como se fosse água e nesta (bolha) surge ahamkara (sensação de individualidade). Nesta, por sua vez, aparece uma massa (o corpo) composta de cinco (elementos) e limitada pelos dhatus.
11. Tens que saber que para converter-se em jiva, o (paramatman) é associado com felicidade e dor e o paramatman em sua pureza passa a denominar-se agora jiva.
12-13. Se considera que tal jiva seja kevala (solitário), livre dos defeitos da paixão, cólera, medo, engano, cobiça, orgulho, anelos, nascimento, morte, avareza, desvanecimento, vertigem, fome, sede, ambição, vergonha, temor, ardor, pesar e alegria.
14. Agora te ensinarei os meios para destruir (estes) pecados. Realmente, poderá surgir jnana (e ser) capaz de conceder moksha, sem Yoga?
15. De forma parecida, o Yoga se torna incapaz de (assegurar) moksha quando falta jnana. Portanto, o aspirante a liberação deve praticar (seriamente) tanto Yoga, como Jnana.
16. O ciclo de nascimentos e mortes é criado apenas por Jnana e se destrói somente através de Jnana. No princípio somente havia Jnana. Deve-se considerar então, como único meio (de salvação).
17-18a. Por meio de Jnana, se conhece (em essência) a autêntica natureza de kaivalya como o estado supremo, puro, indivisível da natureza de sat-cit-ananda, sem nascimento, existência e morte, sem movimento e jnana.
18b-19. Agora te ensinarei os procedimentos do Yoga: o Yoga se divide em vários ramos: Mantra-Yoga, Laya-Yoga, Hatha-Yoga e Raja-Yoga.
20. Existem quatro estados relacionados a estes (ramos): Arambha, Ghata, Parichaya e Nishpatti.
21. Descreverei a continuação, oh Brahma!. Escute atentamente. Deve-se praticar Mantra-Yoga, com seus matrikas (entoações corretas dos sons) e outros (detalhes) durante um período de doze anos.
22. Assim se obtém gradualmente sabedoria e siddhis (como) anima, etc. As pessoas de pouco desenvolvimento intelectual, que são menos qualificadas para o Yoga, praticam este ramo.
23-24(a). O Laya-Yoga (o segundo ramo) busca a dissolução de citta (o complexo mental) e é descrito de várias maneiras (uma das quais é): deve-se praticar a contemplação no indivisível Senhor, (inclusive) quando caminha, sentado, dormindo ou comendo. Isto se chama Laya-Yoga.
24(b)-25. Agora escuta (a descrição do) Hatha-Yoga. Diz-se que este Yoga possui oito etapas (seguintes): yama (abstenções), niyama (observâncias), asana (postura), pranayama (controle da respiração), pratyahara (subjulgação dos sentidos), dharana (concentração), dhyana (contemplação de Hari na entre sobrancelha) e Samadhi (que é o estado de equanimidade).
26-27. (Mais a diante) se dará um ensinamento em separado de: Maha-mudra, Maha-bandha, Khechari, Jalandhara, Uddyana e Mula-bandha, musicando por longo tempo e de forma continuada o pranava (OM) e ouvindo a exposição das verdades supremas; vajroli, amaroli e sahajoli que formam uma tríade.
28-29(a). Oh! Deus de quatro faces (Brahma)!, o yama (abstenção) mais importante é não provocar dor e entre (as observâncias de) niyama, comer de forma moderada e não outro é o fator principal.
29(b). (As posturas principais são) quatro: siddha, padma, simha e bhadra.
30-31. Durante as primeiras fases da prática aparecem os obstáculos seguintes, oh! Deus de quatro faces! preguiça, conversa ociosa, relacionamento com pesssoas de má indole, aquisição de mantras, etc., entretenimento com metais (alquimia) e com mulheres e fantasias, etc. O homem sábio que se dá conta de sua existência deve abandona-los graças ao desenvolvimento de suas qualidades.
32. (Superados os obstáculos) deve-se adotar a postura de padma (lótus) e praticar pranayama. (Para isso) deve-se construir uma ermita agradável com uma porta pequena com tranca.
Introdução:
O anônimo autor vishnuista deste tratado de 142 versos pretende integrar diferentes formas de Yoga nos fundamentos filosóficos do Advaita Vedanta. A época desse texto deve situar ao redor do século XV d.C.
O Yogatattva é o Upanishad que parece conhecer com mais detalhes as práticas do Yoga: menciona os oito passos (3) e distingue quatro tipos de Yoga (Mantra, Laya, Hatha e Raja) (19). Ressalta a interdependência entre Yoga e a Gnose (conhecimento), expressando no início que o Yoga (técnica) sozinho não basta para promover moksha (liberação), se não dispusermos igualmente de Jñana (sabedoria); os poderes mágicos do yogue aparecem neste texto de forma muito envolventes. Pela primeira vez, um Upanishad proporciona com detalhes precisos e numerosos, os poderes extraordinários obtidos pela prática e meditação. São mencionados os quatro principais asanas (siddha, padma, simha e bhadra) (29) mencionando os obstáculos que encontram os debutantes (preguiça, conversa, etc...) (30). Segue uma exposição sobre pranayama (36) com a definição de matra (unidade de medida para as fases respiratórias) (40) com detalhes importantes sobre a fisiologia mística (a purificação dos nadhis é traduzido por certos sinais externos: leveza do corpo, brilho da pele, aumento da potência digestiva, etc.) (46); kevala kumbhaka, significa, suspensão completa da respiração, também com sintomas fisiológicos, (52). Por meio da kevala kumbhaka, pode-se dominar qualquer coisa nos três mundos. O poder de elevar-se pelo ar e de controlar e dominar qualquer ser (bhucara siddhi), são resultados imediatos obtidos com esta prática yogue. O yogue torna-se formoso e forte como um deus e as mulheres o desejam, mas deve preservar-se e manter castidade: "a conseqüência da retenção do esperma, exala um cheiro agradável e rodeia o corpo todo do yogue" (62). O Pratyahara está definido diferentemente aos Yoga Sutras: "Retirando completamente os órgãos sensoriais dos objetos durante a suspensão da respiração" (68). Uma longa lista de siddhis, poderes secretos, deixa a amostra o meio mágico de onde foi elaborada esta Upanishad; fala-se de clarividência - facultade de ouvir e falar bem, possibilidade de mover-se rapidamente a longas distâncias, de adotar qualquer forma e de tornar-se invisível, faculdade de converter o ferro e outros metais em ouro, untando-os com escrementos" (73). Este último siddhi, mostra claramente a relação real existente entre certa forma de yoga com alquimia.
O Yogattatva Upanishad oferece uma fisiologia mística, mais rica que os Yoga-sutras. As "cinco partes" do corpo correspondem aos cinco elementos cósmicos (terra, água, fogo, ar e éter) e a cada elemento corresponde uma letra mística especial e um dharana particular, governado por um Deus: ao efetuar a meditação que lhe é própria, o yogue se converte em dono de um elemento e obtém o siddhi correspondente. Todos estes siddhis são familiares, tanto nas tradições místico-ascético-hindú, como no folclore concernente aos yogues.
O Samadhi descreve-se como um estado paradoxal onde se encontram o jivatman (a alma individual) e o paramatman (o espírito universal), a partir do momento em que não existe mais diferença entre um e o outro. O yogue pode fazer então o que lhe pareça melhor: se assim desejar, pode ser absorvido por Parabrahman; ou, se quiser conservar seu corpo, pode ficar na terra e ser possuidor de todos os siddhis. Pode também converter-se em Deus, viver rodeado de honras, nos céus e adotar todas as formas desejadas. Ao terminar o Yogattatva, também fornece uma lista de asanas e de mudras (112) dos quais alguns encontram-se no Hathayogapradipika. Também dispõe a posição que consiste e manter-se sobre a cabeça (vajrolimudra) com os pés no ar. Posição com os seguintes efeitos terapêuticos: As rugas e cabelos grisalhos desaparecem em três meses, depois de tal exercício (125). Outros mudras tem como conseqüência, a aquisição de siddhis, bem conhecidos: o poder de voar, o conhecimento de prever e até a imortalidade (também por meio de vajroli mudra). A imortalidade é mencionado em detalhes.
No Yogattatva é revelado uma técnica yogue revalorizada à luz da dialética vedântica: o jivatma e o paramatma são substituidos por purusha e a ishvara. Mais significativo ainda do que esta matiz vedântica, é o acento experimental que caracteriza este Upanishad. O texto conserva o aspecto de um manual técnico, com indicações estritas para o uso dos ascetas. O objetivo buscado por esta disciplina é ali expressado claramente: a obtenção da condição "homem-deus" de uma longevidade ilimitada e de uma liberdade absoluta. Este é o "leimotiv" de todas as variedades barrocas de Yoga, que o tantrismo dará maior amplitude.
Texto:
1. Descreverei agora o Yoga-Tattva (Yoga essência) para o benefício dos yogues, para que se liberem de todos os pecados através de sua recitação e estudo.
2.O Supremo Purusha denominado Vishnu, que é o grande yogue, o grande ser e o grande tapasvin (asceta), é como uma lâmpada no caminho da verdade.
3. O Supremo senhor (Brahma) depois de saudar e apresentar os devidos respeitos ao Senhor do Universo (Vishnu), o suplicou (assim): "Por favor, ensina-me o autêntico Yoga que inclue os oito passos".
4. Hrisikesha (o Senhor dos Sentidos ou Vishnu), assim respondeu: "Escuta com atenção, pois te ensinarei a verdade. Todas as almas se enchem de felicidade e dor por meio do engano de maya.
5-6. Kaivalya, o estado supremo, é o caminho que conduz a liberação, desata o laço de maya, destrói o nascimento, a velhice, a doença e permite vencer a morte. Não existe outro caminho para a salvação. Quem vai e vem ao redor dos Shastras (escrituras sagradas) são enganados por seu conhecimento.
7. Inclusive para os Devas, se torna impossível descrever esse estado, por ser indescritível. Como pode ser iluminado pelos Shastras o que brilha em si mesmo?
8. Somente o que é indivisível e puro, que permanece imóvel muito além de tudo e livre de destruição, se converte no jiva (si mesmo individual), a causa dos resultados de passadas virtudes e pecados.
9. Como pode conquistar o estado de jiva, aquele que possui o estado de paramatman, que permanece eternamente em outro estado diferente de todas as coisas existentes, que é sabedoria e pureza?
10. Uma bolha surge nele, como se fosse água e nesta (bolha) surge ahamkara (sensação de individualidade). Nesta, por sua vez, aparece uma massa (o corpo) composta de cinco (elementos) e limitada pelos dhatus.
11. Tens que saber que para converter-se em jiva, o (paramatman) é associado com felicidade e dor e o paramatman em sua pureza passa a denominar-se agora jiva.
12-13. Se considera que tal jiva seja kevala (solitário), livre dos defeitos da paixão, cólera, medo, engano, cobiça, orgulho, anelos, nascimento, morte, avareza, desvanecimento, vertigem, fome, sede, ambição, vergonha, temor, ardor, pesar e alegria.
14. Agora te ensinarei os meios para destruir (estes) pecados. Realmente, poderá surgir jnana (e ser) capaz de conceder moksha, sem Yoga?
15. De forma parecida, o Yoga se torna incapaz de (assegurar) moksha quando falta jnana. Portanto, o aspirante a liberação deve praticar (seriamente) tanto Yoga, como Jnana.
16. O ciclo de nascimentos e mortes é criado apenas por Jnana e se destrói somente através de Jnana. No princípio somente havia Jnana. Deve-se considerar então, como único meio (de salvação).
17-18a. Por meio de Jnana, se conhece (em essência) a autêntica natureza de kaivalya como o estado supremo, puro, indivisível da natureza de sat-cit-ananda, sem nascimento, existência e morte, sem movimento e jnana.
18b-19. Agora te ensinarei os procedimentos do Yoga: o Yoga se divide em vários ramos: Mantra-Yoga, Laya-Yoga, Hatha-Yoga e Raja-Yoga.
20. Existem quatro estados relacionados a estes (ramos): Arambha, Ghata, Parichaya e Nishpatti.
21. Descreverei a continuação, oh Brahma!. Escute atentamente. Deve-se praticar Mantra-Yoga, com seus matrikas (entoações corretas dos sons) e outros (detalhes) durante um período de doze anos.
22. Assim se obtém gradualmente sabedoria e siddhis (como) anima, etc. As pessoas de pouco desenvolvimento intelectual, que são menos qualificadas para o Yoga, praticam este ramo.
23-24(a). O Laya-Yoga (o segundo ramo) busca a dissolução de citta (o complexo mental) e é descrito de várias maneiras (uma das quais é): deve-se praticar a contemplação no indivisível Senhor, (inclusive) quando caminha, sentado, dormindo ou comendo. Isto se chama Laya-Yoga.
24(b)-25. Agora escuta (a descrição do) Hatha-Yoga. Diz-se que este Yoga possui oito etapas (seguintes): yama (abstenções), niyama (observâncias), asana (postura), pranayama (controle da respiração), pratyahara (subjulgação dos sentidos), dharana (concentração), dhyana (contemplação de Hari na entre sobrancelha) e Samadhi (que é o estado de equanimidade).
26-27. (Mais a diante) se dará um ensinamento em separado de: Maha-mudra, Maha-bandha, Khechari, Jalandhara, Uddyana e Mula-bandha, musicando por longo tempo e de forma continuada o pranava (OM) e ouvindo a exposição das verdades supremas; vajroli, amaroli e sahajoli que formam uma tríade.
28-29(a). Oh! Deus de quatro faces (Brahma)!, o yama (abstenção) mais importante é não provocar dor e entre (as observâncias de) niyama, comer de forma moderada e não outro é o fator principal.
29(b). (As posturas principais são) quatro: siddha, padma, simha e bhadra.
30-31. Durante as primeiras fases da prática aparecem os obstáculos seguintes, oh! Deus de quatro faces! preguiça, conversa ociosa, relacionamento com pesssoas de má indole, aquisição de mantras, etc., entretenimento com metais (alquimia) e com mulheres e fantasias, etc. O homem sábio que se dá conta de sua existência deve abandona-los graças ao desenvolvimento de suas qualidades.
32. (Superados os obstáculos) deve-se adotar a postura de padma (lótus) e praticar pranayama. (Para isso) deve-se construir uma ermita agradável com uma porta pequena com tranca.
33. (As paredes) devem ser isoladas com estercól ou cimento branco. Deve-se limpar cuidadosamente (o interior) de todo o tipo de insetos.
34. Deve-se varrer todos os dias com vassoura, perfumar com bons cheiros e queimar incensos.
35-36(a). O (lugar para) sentar-se não deverá estar nem muito alto e nem muito baixo; sobre uma tecido (deve-se colocar uma) pele de cervo e estender (encima) erva kusa; o homem sábio na postura de padma, mantendo o corpo ereto e as mãos unidas ao peito em sinal de respeito, deve saudar sua divindade pessoal.
36(b)-40. Então, fechando a narina direta com o dedo polegar, deve inspirar devagar através da narina esquerda. Depois de reter a respiração (com os pulmões cheios) quanto possível, deve expirar lentamente através da narina direita. Seguidamente, enche a parte baixa dos pulmões através da narina direita, retém a respiração todo o tempo possível e expira através da narina esquerda. Deve-se inspirar através da narina pelo qual se expira (previamente) e continuar assim de forma ininterrupta. O tempo que demora para dar uma volta no joelho com a palma da mão, nem muito devagar, nem muito rápido; similar (ao tempo necessário para dar) um estalo com os dedos, se chama matra.
41-44. Inspirar o ar através da narina esquerda durante dezesseis matras e retê-lo (dentro) aproximadamente sessenta e quatro matras, para expeli-lo pela narina direta durante trinta e dois matras. Denovo, inspirar pela narina direita (e continuar como antes). Praticar a suspensão da respiração quatro vezes ao dia: ao amanhecer do sol, meio dia, entardecer e a meia noite e (efetua-la em um total diário de) oitenta vezes. Aos três meses de prática ininterrupta, acontece a purificação dos nadis. Quando os nadis estiverem purificados, certos sinais externos aparecerão no corpo do yogue.
44-46(a). (Continuando) procederei a descrição (destes sinais): corpo luminoso, pele brilhante, aumento do fogo digestivo, corpo delgado e junto a isso, ausência de agitação corporal.
46(b)-49. O (praticante) esperto deve abandonar a comida prejudicial para a prática do Yoga. Deve-se abandonar o sal, mostarda, alimentos ágrios, verduras quentes, picantes ou amargas, asafétida e outras plantas similares; fazer retiros com culto ao fogo (agnihotra), evitar as mulheres, os passeios, o banho ao amanhecer, o enfraeucimento do corpo através de jejuns e outras atividades similares. Durante as primeiras fases da prática, se recomenda tomar leite e ghee (manteiga clarificada), também diz-se que a comida que inclua trigo, legumes verdes e arroz vermelho favorece o progresso. Então, (seguindo estas recomendações), poderá se reter a respiração todo o tempo que se deseje.
50-53. Desta forma. retendo com facilidade a respiração, tanto quanto se possa, se conquista kevala kumbhaka (ausência da respiração, sem inspiração nem expiração). Quando se conquista kevala kumbhaka precedendo da expiração e inspiração nada mais resta para ser alcançado nos três mundos. No começo (da prática), brota suor (e) o (praticante) deve limpar-se. Mais a diante, o praticante experimenta um aumento da transpiração quando retém a respiração, finalmente com a prática intensa de dharana, o suor vem copiosamente.
54. Igual aos saltos de uma rã, assim se move o yogue quando senta na postura de lótus (padma). Com a prática (mais avançada), pode elevar-se do solo.
55. (O yogue) sentado na postura padma, levita. Advém um poder (maravilhoso) que lhe permite realizar feitos extraordinários.
56. (O yogue) não deve divulgar as ações (levadas a cabo com) seus grandes poderes. (Agora) nenhuma dor pequena ou grande, afeta o yogue.
57. As secreções e o sono diminuem; as lágrimas, o catarro ocular, o fluxo salivar, o suor e o mau cheiro na boca desaparecem.
58-60. Com uma prática mais avançada ainda, adquiri-se grande força com a qual se conquista bhuchara siddhi, (este poder) lhe permite dominar todas as criaturas sobre a Terra; tigres, sarabhas (animal com oito pernas), elefantes, touros ou leões caem mortos (instantaneamente) ao ser tocados por um yogue. (Este) se torna tão belo como o Deus do amor.
61-62. Todas as mulheres desejarão ter relações sexuais com ele. (Mas) se aceita, perderá sua virilidade; desta forma, renunciando estas relações , deve continuar com sua prática com grande dedicação. Com a preservação do semen, o corpo do yogue se impregna de bons cheiros.
63. Então, sentado em um lugar solitário, deve repetir o pranava (OM) como três pluta-matras (entoação prolongada) para destruir seus anteriores pecados.
64. O mantra, pranava (OM), destrói todos os obstáculos e todos os pecados. Assim, com esta prática, se conquista o estado de arambha (primeiro estado).
65-66. Depois, segue o gatha (segundo estado), que se adquire por meio da prática constante da cessação da respiração. Quando se der a união perfeita sem divisão entre prana e apana, manas e buddhi, jivatma e paramatma, o estado de gatha se instala. Descreverei (mais a diante), suas características.
67. Agora podemos (reduzir) a prática somente a uma quarta parte do período prescrito para a etapa anterior. Pode-se praticar durante um yama (três horas diárias), manha e tarde.
68-69(a). Será praticado kevala kumbhaka uma vez ao dia. Pratyahara é a inibição completa dos órgãos dos sentidos com respeito aos seus objetos, durante a cessação da respiração.
69(b). Qualquer coisa que (o yogue) veja com seus olhos, deve considera-la como atman.
70. Qualquer coisa que (o yogue) ouça com seus ouvidos, deve considera-la como atman. Qualquer coisa que (o yogue) cheire com seu nariz, deve considerar como atman.
71. Qualquer coisa que (o yogue) saboreie com sua língua, deve considerar como atman. Qualquer coisa que (o yogue) toque com sua pele, deve considerar como o atman.
72. Sem desânimo e com total dedicação, o yogue deve inibir desta forma, os órgãos dos sentidos diariamente durante um período de um yama.
73-74. Então, (finalmente) o yogue adquire distintos poderes especiais, como clarividência, clariaudiência, habilidade de movimentar-se a grandes distâncias em um instante, grand epoder de oratória, adoção de qualquer forma, habilidade para tornar-se invisível e poder para transformar ferro (e outros metais) em ouro, quando o yogue os junta com seus próprios excrementos.
75-76. Esse yogue que pratica constantemente, adquire o poder de levitar. Agora, o yogue (suficientemente) sábio deve raciocinar que estes poderes são (em realidade) grandes obstáculos para alcançar a conquista última do yoga e, em conseqüência, nunca deve deleitar-se com eles. O melhor dos yogues não deve em absoluto, exercitar seus poderes diante de qualquer pessoa.
77. (O yogue) deve viver no mundo como um néscio, como um surdo ou um idiota, com o objetivo que seus poderes não se tornem públicos.
78-79. (Entretanto), seus discípulos lhe pedirão que demonstre seus poderes para satisfazer seus próprios desejos. Quem se comprometer ativamente com suas obrigações (mundanas), (terminará) abandonando a prática (do yoga); então, deverá praticar yoga dia e noite sem esquecer das palavras de seu guru. Desta forma, passará o estado de gatha aquele que permanecer constantemente comprometido na prática do Yoga.
80. Deve-se praticar Yoga com grande dedicação, pois não se ganha nada com companhias inadequadas.
81-83(a). Desta forma, com a prática constante alcança-se o estado paricharya (o terceiro estado). Através da prática intensa, vayu (respiração) junto com agni (kundalini), com a ajuda do pensamento (foco), perfura e penetra o sushumna. Quando citta entra em sushumnprana alcança o lugar (mais) elevado (provavelmente na cabeça).
83(b). Existem cinco elementos: prithvi, apas, agni, vayu e akasha.
84-87(a). No corpo (composto) por cinco elementos, existem cinco dharanas (lugares para a concentração, meditação ou visualização contemplativa). Dos tornozelos até os joelhos, diz-se que é a região de prithvi (terra); (a figura iconográfica deste elemento) é de forma quadrada, de cor amarela e possui (como mantra) a sílaba "la". Levando a respiração, ao mesmo tempo que a sílaba "la", ao longo da região do solo (prithvi, é dizer, dos tronozelos aos joelhos) e contemplando a Brahma (que possui) quatro rostos e quatro bocas e é de cor amarela, (o yogue) deve praticar dharana nesse lugar durante duas horas. Assim ganha o poder de dominar o solo. A morte não é problema quando se obtém o domínio sobre este elemento, terra.
87(b)-90. A região de apas (água) se estende dos joelhos ao ânus. Apas possui forma de meia-lua, de cor branca e sílaba mística "va" como bija (semente). Levando a respiração com a sílaba "va" ao longo da região de apas, deve-se meditar no Deus Narayana que está coroado, possui quatro braços, é de cor cristal puro, veste roupa de cor laranja e é indestrutível; praticando dharana em tudo isso por um período de duas horas, se conquista a liberação de todos os pecados. Então, desaparece o medo da morte relacionada com a água.
91. Do ânus ao coração, diz-se que é a região de agni (fogo). Agni possui forma triângular, de cor vermelha e sílaba "ra", como semente (bija).
92-93(a). Elevando a resplandescente respiração ao longo da região do fogo por meio da sílaba "ra", deve-se meditar em Rudra que possui três olhos, concede todos os desejos, é de cor do sol do meio-dia, está recoberta com sagradas cinzas e possui uma aparência agradável.
93(b)-94(a). Praticando dharana desta forma durante um período de duas horas, (o yogue), torna-se sem combustão, mesmo que o corpo inteiro se transforme em uma chama.
94(b)-96. Do coração a região entre-sobrancelhas, se estende a região de vayu (ar). Vayu possui forma hexagonal, de cor negra e resplandece com a sílaba "ya". Levando a respiração ao longo da região de vayu, deve-se meditar em Ishvara, o Onisciente, o possuidor de mil rostos; praticando dharana assim, durante duas horas, vayu entra em akasha.
97-98(a). (Consequentemente), o yogue não encontra sua morte por meio do vayu. Do centro das sobrancelhas para cima da cabeça, diz-se que é a região de akasha (o éter, espaço cósmico), de forma arredondada, cor humectante e brilhando com a sílaba "ha".
98(b)-101(a). Elevando a respiração ao longo da região de akasha, deve-se visualizar a Sadashiva com os seguintes atributos: doador de felicidade, com a forma de bindu, como o grande deva, tendo a forma de akasha, brilhante como o cristal puro, levando a meia-lua crescente em sua cabeça, dez mãos e três olhos, com um semblante agradável, armado com todas as armas, adorado com todos os ornamentos, tendo a (deusa) Uma como metade de seu corpo, preparado para conceder favores e sendo a causa de todas as causas.
101(b). Praticando dharana na região de akasha, realmente se obtém o poder de atravessar os ares.
102. Onde quer que esteja, (o yogue) desfruta a beatitude suprema. O "expert" em Yoga deve praticar estes cinco dharanas.
103. Então, seu corpo se tornará forte e não conhecerá a morte. Este poderoso homem, não morre nem sequer com o dilúvio de Brahma.
104-105. Agora há de praticar dharana durante um período de seis ghátikas (duas horas e vinte e quatro minutos), contendo a respiração na (região de) akasha e visualizando a deidade (pessoal) que concede seus desejos. Diz-se que isto é saguna dhyana, capaz de conceder (os siddhis) anima, etc. Quem compenetrar em nirguna dhyana conquistará o estado de samadhi.
106. Em torno de doze dias, se conquistará o estado de samadhi. Contendo sua respiração, o sábio se converterá em uma pessoa liberada.
107. Samadhi é esse estado em que o Jivatman (ego inferior) e o Paramatman (ego superior) não se distingue (são o mesmo estado). Se (no estado de Samadhi) deseja sair de seu corpo, pode faze-lo assim.
108-109(a). (O yogue) se dissolverá em Parabrahman sem necessidade de utkranti (sair ou subir). Mas se não assim deseja e está satisfeito com seu corpo, viverá em todos os mundos possuindo siddhis, como anima, etc.
109(b)-110. As vezes, se converte em um deva e vive adorado em svarga; outras vezes, se converte em homem ou um yaksha, se desejar. Também pode tomar a forma de um leão, tigre, elefante ou cavalo, deliberadamente.
111. O yogue convertido em deus pode viver tanto quanto queira. Somente existe diferença na forma de proceder, mas o resultado é o mesmo.
112-115(a). Colocar o calcanhar esquerdo contra o ânus, estender a perna direita e mante-la contraída com ambas as mãos. Colocar o queixo no peito e inspirar o ar devagar. Conter a respiração tanto quanto consiga e na continuação expirar devagar. Depois de praticar com o pé esquerdo, praticar com o pé direito. Isto é Maha-bandha e deve ser praticado em ambos os lados.
115(b)-117(a). O yogue que senta em maha-bandha e tenha inspirado o ar com a mente concentrada, deve deter o fluxo (interno) de vayu por meio do mudra da garganta (jalandhara) e encher completamente ambos os lados (da garganta). Isto se chama Maha-vedha e é praticado habitualmente pelos siddhas.
117(b)-118(a). O mudra da língua voltada para a cavidade interior da garganta e os olhos concentrados em um ponto entre as sobrancelhas, se chama khechari.
118(b)-119(a). Contrair os músculos do pescoço e colocar a cabeça firmemente contra o peito, se chama jalandhara (bandha); é (como) o leão diante de um elefante moribundo.
119(b)-120(a). Os yogues chamam uddhyana ao bandha no qual o prana volta através do sushumna.
120(b)-121(a). Pressionar o calcanhar firmemente contra o ânus, contrair o esfincter anal e levar apana para cima, se denomina yoni-bandha.
121(b)-122(a). Através de mula-bandha, se unem prana e apana, nada e bindu e se obtém o objetivo do Yoga; não existe nenhuma dúvida sobre isso.
122(b)-124(a). Quem pratica as técnicas de inversão (corporal), destrói todas as doenças (e) aumenta o fogo gástrico. Por tanto, o praticante deve dispor de grande quantidade de provisões, (pois) se come pouco, o fogo (interno) consumirá seu corpo em pouco tempo.
124(b)-125. O primeiro dia, se deve permanecer sobre a cabeça com os pés elevados somente por um momento. Deverá aumentar este período gradualmente todos os dias. As rugas e o cabelo grisalho desaparecem em três meses.
126. Somente praticando um yama (24 minutos) cada dia se conquistará o tempo. Quem pratica vajroli se converterá em um yogue e conquistará todos os siddhis.
127-128. Quem conquista os siddhis do Yoga, certamente conhecerá o passado e o futuro e poderá movimentar-se pelos ares. Quem bebe dessa forma, o néctar se tornará pouco a pouco, imortal. Se deve praticar vajroli diariamente. Então, (esta prática aperfeiçoada) se chama amaroli.
129-131(a). Assim se obtém o (estado de) Raja-Yoga e certamente já não haverá mais obstáculos. Quando o yogue completa sua ação com o Raja-Yoga, então obtém realmente a discriminação (entre o real e o irreal) e a indiferença diante dos objetos. Vishnu, o yogue das grande austeridades e o purusha mais excelso, se observa como uma lâmpada (iluminando) o caminho da verdade.
131(b)-134(a). O peito que amamentou primeiro (em um nascimento anterior), aperta agora (apaixonadamente) e proporciona prazer. Se desfruta do mesmo órgão genital que serviu para o nascimento. Quem foi uma vez mãe, será agora esposa e quem é agora esposa (o será) certamente mãe. Quem é agora pai será denovo filho e quem é agora filho será denovo pai. Assim são os egos que experimentam este mundo vagando de útero do nascimento a morte, como o cubículo da roda de um moinho.
134(b) - 136(a). Existem três mundos, três vedas, três sandhyas (manhã, meio dia e meia noite), três svaras (sons), três agnis e (três) gunas e todos eles se encontram nas três letras (do mantra sagrado OM). Quem entende isso, se torna indestruível; para ele, todos estes mundos permanecem unidos (como um único solo). Esta é a Verdade, o estado supremo.
136(b)-138(a). Como o perfume da flor, como o ghee no leite, como o óleo na semente de sésamo e como o ouro no quartzo, asim é o lótus no coração. Sua face está para baixo e seu talo para cima. Seu bindu está para baixo e em seu centro está manas.
138(b)-139(a). Com a letra "A" o lótus se desprega; com a letra "U" se abre e com a letra "M" se obtém nada; o Ardha-matra é o silêncio.
139(b)-140(a). A pessoa comprometida na (prática do) Yoga obtém o estado supremo que é puro como o cristal, não possui partes e destrói todos os pecados.
140(b)-141. Igual a uma tartaruga que esconde suas patas e cabeça dentro de si mesma, assim entra e sai o alento inspirando e expirando, através das nove aberturas do corpo.
142. (O yogue liberado) contempla atman depois de fechar as nove aberturas, como uma chama imóvel dentro de um frasco hermético, quieta no coração graças ao Yoga, completamente serena.
Assim termina este Upanishad.
Sri Swamiji Shankara Saraswati Maharaj - Maharishi Mahamandaleswar Param Jagad Sat Guru
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