quarta-feira, 19 de março de 2008

Amrita-Bindu-Upanishad

Doutrina Secreta da Fonte da Imortalidade


Introdução


A Amritabindûpanishad, conhecida também como Brahmabindûpanishad, é um texto curto com somente 22 versos.


Forma parte do grupo das cinco "Bindu Upanishad", que pertence ao Krishna Yajur Veda.


O termo Bindu (literalmente significa "ponto, gota"), possui aqui o sgnificado de "semente", "fonte", com todo o tipo de conotação esotérica. Este contexto é bem provável que se refira a mente mesma (manas) que é fonte tanto da liberdade quanto da escravidão.


Esta Upanishad diferencia a meditação pronunciando a sílaba om e a prática masi avançada inaudível ou sem pronunciação (asvara) da sílaba, somente possível por meio das técnicas de yoga.


Também se refere a estes conceitos com os termos, deletrado/paracedeiro (kshara) e não deletrado/imparecedeiro (akshara).


Com a meditação no segundo aspecto deste grande mantra, é assegurado ao praticante a serenidade mental.


Neste ponto é aconselhável ao praticante abandonar todo o conhecimento intelectual, igualmente como se desprende o grão da casca.


A última realização deste Mantra Yoga é a identificação com o Absoluto na forma de Vasudeva (uma das denominações do Divino).




Texto

1. A mente possui duas formas: pura e impura. A (mente) impura (esta possuída pelo) desejo e a vontade; a (mente) pura não possui desejos.

2. A mente é a única causa da liberação (moksha) e da escravidão das pessoas. Apegada aos objetos (conduz) a escravidão; liberada dos objetos é considerada (que conduz) a liberação (mukti).

3. Aquele que busca a liberação deve manter sua mente pura e vazia de objetos, pois a liberação só é possível a mente desprovida de objetos.

4. A mente, (uma vez) liberada do contato com os objetos e confiada no coração, alcança o estado de não-essência (abhâva) que é o Supremo Estado.

5. (A mente) deve manter-se vigiada e controlada até sua (completa) dissolução no coração. Assim, (se alcança) sabedoria (jñana); assim (se pratica) a meditação (dhyâna). O resto é vã especulação.

6. (O Supremo Estado) não é algo sobre o qual se possa pensar (como algum atributo divino positivo), nem algo impensável (como algum atributo negativo ou desagradável); ainda que não se possa pensar (como possuidor de forma), (é o único que vale a pensa) pensar (como a essência sempre manifesta, eterna e totalmente feliz em si mesma). (Quando) nos liberamos destes pontos de vistas parciais, então, se alcança o Absoluto (Brahman).

7. (Primeiro) se deve praticar corretamente a meditação em Om como som, atento ao significado de sua pronunciação (svara). (Depois) se deve meditar em Om com ausência de som, sem pronuncia-lo (asvara). Por meio da perfeição desta segunda forma de meditação, se alcança a existência na inexistência (abhâva).

8. Isso realmente é Brahman, (que é) imóvel, indivisível e sem defeito algum. Por meio da compreensão "eu sou Brahman", sem dúvida se alcança Brahman.

9. "(Brahman) é sem forma, infinito, sem causa ou precedente, sem medida e sem começo". Com esta compreensão, o sábio se libera.

10. "(No estado de Brahman) não existe nem dissolução nem criação; não existe escravizado nem realizado, nem buscador da liberação, nem liberado". Esta é a verdade suprema.

11. Realmente, âtman (si-mesmo-individual) não muda nos estados de vigília, sono (ligeiro) e sonho (profundo). Para quem transcende estes três estados não existe a reencarnação.

12. O si-mesmo elemental (bhûtâtman) que mora em cada ser, não é outro, mas o mesmo. Se conhece como um e muitos (ao mesmo tempo), como o (reflexo) da lua na água.

13. Como o espaço (âkâsha) (que não se altera) dentro de um recipiente quando este se move ou como o espaço (que não se afeta) que se destrói o recipiente - de forma parecida, a psique (jiva) se assemelha ao espaço.

14. Quando as diversas formas, como o recipiente, se destróem uma e outra vez, âkâsha (ou a psiquê, jiva) não é consciente dele, mas (o si-mesmo, âtman) o sabe perfeitamente.

15. Coberto pela ilusão (maya) e (cegado) pela obscuridade, não alcança a Fonte da Diversidade (pushkara, o Absoluto). Quando se dissipa a obscuridade, mora em si mesmo e somente contempla a Unidade (ekatva).

16. O som infinito (akshara) (da sílaba sagrada Om) (se realiza primeiro como) o Supremo Absoluto (Brahman). Quando (a idéia da palavra Om) se desvanesceu, o que (permanece) é o Absoluto (Brahman). Para o sábio obtenha paz, deve meditar no infinito (akshara).

17. As duas (formas) de conhecimento (vidyâ) são; o Absoluto com som (Shabda-Brahman) e o que transcende (Para-Brahman). Quem dominou o (estado de) Brahman com som, conquista o (estado) Supremo de Brahman.
18. O sábio que pretende (alcançar) este (Brahman) por meio da sabedoria (jñâna) e o conhecimento (vijñana) (obtidos) estudando as escrituras, deve desfazer-se de todos os livros, assim como (se desfaz) a casca para obter o grão.
19. As vacas (de diferentes cores) dão leite da mesma cor - (o sábio) compara a sabedoria (jñâna) com o leite e os numerosos caminhos (livros) com as vacas.
20. O conhecimento (vijñâna) se faz oculto em cada ser, como a manteiga (guee) no leite. Se deve bater constantemente (este conhecimento) utilizando a mente como um instrumento para bater o leite.
21. Tirando a corda da sabedoria (jñâna-netra), se deve extraír o Supremo (Para-Brahman), do mesmo modo que o fogo (é extraído da madeira por meio da fricção), lembrando "eu o indivisível, imutável e calmo Brahman".
22. (Brahman) mora em todos os seres e é a morada de todo o ser para o benefício (de todos) - este Vasudeva, Essência Suprema e Alma do Universo, sou eu.
Tal é este Upanishad
Sri Swamiji Shankara Saraswati Maharaj











quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

YOGA HAMSA UPANISHAD

Doutrina Secreta do Cisne Místico



Introdução

Esta Upanishad trata do conhecido termo sanscrito "hamsa". Forma parte do Sukla Yajur Veda e consta de vinte e uma sessões curtas onde se expõe de forma muito condensada a teoria e a prática do mantra hamsa.

Escrita em forma de diálogos entre o sábio Sanatkumara e seu discípulo Gautama, o ensinamento proposto pode ser enquadrado dentro do kundalini yoga. A Upanishad aconselha praticar a recitação silenciosa de hamsa a aqueles incapazes de contemplar diretamente o si-mesmo-transcedental. Isto implica na observação conscinete da "pregaria" espontânea da respiração. Desta forma, afirma o texto, se geram todo o tipo de sons internos (nada). Afirma que hamsa penetra no corpo como o fogo penetra a madeira ou o azeite impregna a semente de sésamo.

O texto menciona oito funções principais de hamsa, mas realmente descreve doze, relacionadas com o "lótus do coração" (hrit padma). Também dá uma descrição dos dez níveis de manifestação do som interno, associando-os com diferentes fenômenos, os quais se tornam significativos a partir do quarto: tremor na cabeça, profusão do néctar da imortalidade (amrita), desfrute do fluido da ambrosia, aquisição do conhecimento secreto, perfeição do discurso (para-vak), habilidade para tornar-se invisível e contemplar o infinito e, finalmente, identificação com o Absoluto. Pede-se ao praticante que se concentre no décimo nível, do som mais sutil semelhante a um trovão (megha nada).

Todo esse processo conduz a identificação com o si-mesmo-transcedental, a realização de Sada-Shiva, o Shiva Eterno", que é o resplandescente e pacífico sustentador de todo a existência.



TEXTO


Om! Este (brahman) é infinito e este (universo) é infinito.

O infinito procede do infinito.

(Inclusive) extraindo a infinitude do infinito (universo),

o único que permansce é o infinito (Brahman).

Om! Penetre em mim a paz!

Haja paz ao meu redor!

Haja paz nas forças que atuam em mim!


1. Gautama se dirigiu a Sanatkumara da seguinte forma: "sábio Senhor, que conhece todos os Dharmas e és o expert em todos os Shastras, rogo-te que me indiques o caminho que tenho que adotar para compreender Brahma Vidya (conhecimento do Absoluto)".
2. Sanatkumara respondeu: "te ensinarei Gautama, a doutrina fundamental (tattva) tal como foi exposto por Parvati (esposa de Shiva) depois de compreender todos os ensinamentos de Shiva e analisar completamente todos os Shastras".

3. Sanatkumara continua: "este ensinamento é muito secreto e o yogue deve preserva-lo cuidadosamente como um grande tesouro; o ensinamento permite compreender a natureza de hamsa; o praticante alcançará assim, a liberação e o conhecimento puro (de Brahman); por tanto, não deverá ser mostrado a quem não estiver suficientemente qualififcado para assimilar tais resultados".

4. Sanatkumara prossegue: "agora vou explicar-te detalhadamente a autêntica natureza de hamsa para benefício do brahmacharin (estudante de yoga), que dominou seus sentidos e venera seu guru.

5. Quem compreende a Essência Suprema que mora em todo o ser como a inerente presença do fogo nas brasas ou do azeite nas sementes de sésamo, nunca encontrará a morte.

6. Efetuar a contração anal (asvinimudra) com o calcanhar no períneo; elevando o vayu (prana ou kundalini) a partir do chakra raiz (muladharachakra) e dar três voltas ao chakra svadhisthana, atravessando manipurachakra, cruzando anahatachakra e meditando no brahmarandhra (na cabeça); compreenderá que a autêntica natureza do si mesmo, carece de forma.

7. O sisna (pênis) possui dois lados (esquerdo e direito, conforme se observa para baixo). (Realmente) é paramahamsa (o supremo hamsa, o supremo si-mesmo) com o resplendor de olhadas as estrelas, do qual graças a isso surge (se fertiliza) todo o universo.

8. (Este hamsa que possui buddhi como veículo) possui oito vrittis (pétalas, no lótus do coração).

9. (Quando se contempla hamsa) na pétala oriental, (a pessoa) inclina-se uma grande atividade; na pétala sul-oriental surge o sonho, preguiça, etc.; na do sul, existe inclinação a crueldade; na do sul-ocidental, existe uma inclinação aos pecados; na ocidental uma inclinação a ativdade sensual; no norte-ocidental, é despertada o desejo de caminhar, entre outros; no norte, aparece o desejo de luxúria; no norte-oriental, o desejo de armanzenar riquezas; no meio (nos espaços entre as pétalas), existe indiferença diante dos prazeres materiais.

10. (Quando se contempla hamsa) no talo (do lótus do coração), surge o estado de vigília; no pericárpio aparece svapna (sono ligeiro, com sonhos); no bija (semente do pericárpio) surge sushupti (sonho profundo, sem sonhos); ao deixar o lótus, aparece turiya (quarto estado).

11. Quando hamsa está absorto em nada (som místico), se alcança um estado muito além do quarto. Nada (que está no limite do som e além da palavra e da mente) permanece como cristal puro (e) se estende do muladhara ao brahmarandhra. Isto é (realmente) Brahma ou Paramatman.
12. (A continuação versa sobre o ajapa gayatri): agora hamsa é o rishi; a medida é avyakta gayatri (o imanifestado); paramahamsa (o absoluto) é devata (deidade que preside), "ham" é bija; "sa" é Shakti; so'ham (o som do ar ao respirar) é kilaka (a união). É composto, (portanto), de seis formas.
13. São produzidos 21.600 hamsa (ou respirações) durante um dia completo. (Saúdo a) Surya, Soma, Niranjana (o puro) e Nirabhasa (o ilimitado).
14. Ajapa mantra. (Que) a sutil e carente forma seja um guia (e ilumine minha compreensão). Agora deve-se praticar (a contemplação) anganyasas e karanyasas (deve ser efetuado recitando o mantra) no coração e em outros (lugares).
15. Uma vez assim feito, se deve contemplar hamsa (o cisne místico) como atman no coração; agni e soma são suas asas (lados direito e esquerdo); omkara é sua cabeça; ukara e bindu são os três olhos e a face, respectivamente; Rudra e Rudrani (Shiva e Shakti) são os pés.
16. Kanthata (a compreensão da unidade entre jivatma ou hamsa, o ser individualizado e paramatman, o ser absoluto) se realiza de duas maneiras (samprajñata e asamprajñata).
17. Despois disso, unmani (estado de realização, além do mental) se fará ao final do ajapa (mantra). Uma vez refletido assim em manas por meio deste (hamsa), se escuta nada como fruto de uma longa recitação deste ajapa (mantra). Nada possui dez formas (níveis) de manifestação.
18. A primeira chama-se chini (como o som desta palavra); a segunda, chini-chini; a terceira é o som de uma campaínha; a quarta é o som da concha; a quinta é o som do tantiri (alaúde); a sexta é o som de tala (címbalos); a sétima é o som da flauta; a oitava é o som do bheri (tambor); a nona é o som do mridanga (tambor duplo) e a décima é o som das nuvens (isto é, de um trovão).
19. É possível experimentar o décimo nível sem (experimentar) os nove primeiros sons (através da iniciação com um guru).
20. Na primeira fase, o corpo se torna chini-chini; na segunda existe o estremecimento (bhanjana) no corpo; na terceira existe a penetração (bhedana); na quarta, a cabeça treme, na quinta, o paladar produz néctar (amrita); na sexta, é desfrutado o néctar da imortalidade; na sétima, surge o conhecimento do oculto (no mundo); na oitava, é aperfeiçoado o discurso (para-vak); na nona, o corpo se torna invisível e se desenvolve a visão divina e na décima, se conquista a identificação do para-brahman com atman que é Brahman (identificação com o absoluto).
21. Depois disso, uma vez destruído ou dissolvido manas, fonte de sankalpa e vikalpa, e devido a destruição destes dois, quando destruídas as virtudes e os pecados, então, resplandescerá como Sadashiva com a natureza de Shakti que o invadirá por inteiro, sendo reluzente em sua autêntica essência, imaculado, eterno, puro e o om mais puro. Assim é a essência dos Vedas; e assim é o Upanishad.
Sri Swamiji Shankara Saraswati Maharaj