1. Ao observar, como uma representação aos habitantes da cidade, constituída por uma multidão de homens e mulheres, uns bem vestidos e outras adornadas com jóias de ouro e, ao constatar que essa visão é percebida evidentemente em si mesmo no ato de experimentar sua companhia, o Sábio, cuja ignorância foi desfeita pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
2. Ao ver as árvores do bosque inclinar suas amáveis copas sob o peso dos galhos e dos frutos, estender sua túpida sombra e oferecer o refúgio de seus galhos e folhas a uma multidão de pássaros que cantam suavemente, aproveitando bem o dia [para orar e meditar] e a noite para deitar-se na terra a seus pés, jacendo ali como em uma cama, o Sábio, cuja ignorância foi desfeita pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
3. Mesmo que viva em um templo ou em um suntuoso palácio de um rico, que viva as vezes, na montanha e as vezes, às margens de um rio ou ainda nas melhores cavernas dos melhores ascetas dedicados ao silêncio que extinguiram de sua própria mente, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
4. Mesmo que, as vezes, desfrute da companhia de crianças despreocupadas que brincam batendo palmas, ou que se encontre com mulheres jovens e atrativas, ou que se lamente com anciãos do povo cuja alma está cheia de preocupações, o Sábio, cuja ignorânccia foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
5. Mesmo que se esteja submetido em uma profunda discussão, por uma vez, com eruditos sedentos de conhecimento, ou outra vez, dissertando com eminentes poetas conhecedores do sentimento humano e experts no lirismo, ou com excelentes sofistas dedicados a abstrusos raciocínos e sutilíssimas deduções, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
6. Mesmo que se encontre imerso em exercícios de contínua e profunda meditação, ou ocupados nos atos de devoção para com as divindades, realizados em total e humilde submissão e com a alma cheia de alegria; trazendo ramos de flores perfumadas ou simples oferendas de pétalas e folhas, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
7. Mesmo que esteja invocando alguma vez com os olhos cheios de lágrimas de alegria, o nome da consorte de Shiva [ Shakti ] ou de Shambu [ Shiva ], ou que em outra ocasião esteja invocando o nome de Vishnu ou de Ganapati ou do Sol fulgurante, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não subumbe mais diante da ilusão.
8. Mesmo que alguma vez venha a se purificar nas águas do Ganges, ou que submerja nas águas que brotam de uma fonte ou em um poço, ora quentes e ora frias, ou que espalhe cinzas brancas em seu corpo com essência arcanflor, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
9. Mesmo que espere em vigilía, experimentando objetos sensíveis ou que faça somente a experiência dos objetos presentes no estado do sonho, ou que experimente a benção ininterrupta do estado de sono profundo, o Sábio, cuja a ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não subumbe mais diante da ilusão.
10. As vezes, vestido apenas sobre seus membros, as vezes, vestido com uma magnifíca capa, ou, as vezes, vestido com uma simples pele de leão para frunzir os lados, [ mas sempre ] com a consciência desperta e vigilante em um estado de completa absolutez e radiante pela beatitude que brota diretamente do próprio coração do Perfeito, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
11. Algumas vezes, estabilizando Sattva, outras impulsionado por Rajas e, outras sob influência de Tamas, e, finalmente, independente das três, na qualidade de transmigrante como aquele que recorre a vía indicada pelas Escrituras, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbre mais diante da ilusão.
12. Mesmo quando imerso no mais absoluto silêncio, ou ocupado com toda atenção em discussões acaloradas ou, sem palavras, se absorve na beatitude de Si mesmo e sucessivamente se dedica a observar com indiferença as múltiplas atividades mundanas, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
13. Mesmo que elimine o riso da boca para coloca-la como oferecenda nas bocas abertas, como os lótus das divindades e que elimine de suas bocas para coloca-las na sua própria e celbre a Não-dualidade na qual desaparace qualquer distinção entre o Ser próprio e o alheio, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvido pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
14. Que se encontre na companhia dos Shaivas e dos Shaktas, ou que resida com devotos de Vishnu ou com os adoradores do Sol, ou ainda com os adoradores de Ganapati, resolva toda as diferenças por meio da consciência da Não-dualidade, o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
15. Apesar de sempre estar consciente da própria natureza idêntica de Shiva, mesmo quando "sem-forma", graças a compenetração com os diversos gunas, pode perceber aquilo "com-forma", ou ainda, perceber a maravilha [do cosmos] ou permanecer em si plenamente satisfeito, mas o Sábio, cuja igonrância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
16. Uma vez tendo reconhecido a totalidade como pura Não-dualidade, sempre existente e essencialmente benigna, graças a compreensão efetiva do significado real das grandes sentenças, aderido a prática contínua da meditação, desvanecido qualquer aparência de dualidade [para ele] e murmurando nada mais do que "Shiva! Shiva! Shiva!", o Sábio, cuja ignorância foi dissolvida pela graça do Mestre, já não sucumbe mais diante da ilusão.
17. Se este, excelso entre os homens graças aos méritos, se submerge dia após dia, repetida e imediatamente, nessa extensão de beatitude inata e reside por longo tempo neste estado de liberação, do qual baseia-se o supremo Shiva, que somente pode ser realizado por meio da graça concedida pelo Mestre, através de sua sublime mirada, este será venerado pelos Sábios com um Yoguin, como aquele que conquistou o desapego total como um perfeito conhecedor [da mente].